No Brasil, é celebrado em 18 de maio o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Essa data, organizada por vários movimentos sociais, grupos, coletivos e entidades, representa tanto uma celebração quanto uma luta em espaços públicos, serviços de saúde mental e universidades. Também destaca as mobilizações a favor do fechamento de manicômios, da implementação de novas legislações, da criação da rede de saúde mental e atenção psicossocial.
O Movimento Antimanicomial, ou Luta Antimanicomial, impulsionou a reforma psiquiátrica no Brasil, movimento que teve origem no II Congresso Nacional de Trabalhadores de Saúde Mental em Bauru e culminou na intervenção na Casa de Saúde Anchieta em Santos.
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Esse movimento está ligado originalmente à Reforma Sanitária Brasileira, que resultou na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Também relacionado à experiência de desinstitucionalização da Psiquiatria, desenvolvida na comuna de Gorizia e na cidade de Trieste, na Itália, pelo médico e psiquiatra Franco Basaglia na década de 1960, na Psiquiatria Democrática Italiana e o Pensamento Basagliano.
A experiência da Psiquiatria Democrática trouxe transformações no modelo de assistência psiquiátrica, substituindo o hospital por uma comunidade terapêutica e melhorando as condições de acolhimento, o cuidado técnico aos internos e as relações entre a sociedade e a loucura. Basaglia, assim como Frantz Fanon antes dele, percebeu os limites da transformação do hospital psiquiátrico e passou a propor um modelo territorial e comunitário, baseado em um sistema descentralizado, que influenciou a luta antimanicomial brasileira.
Como resultado desse movimento, surgiu a Reforma Psiquiátrica, definida pela Lei 10.216 de 2001 (Lei Paulo Delgado), que estabelece diretrizes para a reformulação do modelo de Atenção à Saúde Mental, transferindo o foco do tratamento que antes era concentrado em hospitais para uma Rede de Atenção Psicossocial, composta por unidades de serviços comunitários e abertos.
A reforma psiquiátrica é um processo complexo. Um marco inicial desse movimento foi a crise institucional vivida pela Divisão de Saúde Mental do Ministério da Saúde (DINSAM) na década de 1970.
A política pública de saúde mental é um processo político e social complicado, envolvendo participantes, instituições e forças de diferentes origens em vários territórios. É um conglomerado de transformações de práticas, conhecimentos, valores culturais e sociais, que avança no cotidiano das instituições, serviços e relações interpessoais, enfrentando tensões, conflitos e desafios.
Em 2001, foi sancionada a Lei Paulo Delgado, que trouxe importantes mudanças para a assistência em saúde mental no país. Essa lei direcionou o foco para o oferecimento de tratamentos em serviços de base comunitária, priorizando o cuidado integrado e humanizado. Além disso, a legislação estabeleceu medidas de proteção e garantia dos direitos das pessoas com transtornos mentais.
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Embora a Lei Paulo Delgado não tenha instituído mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios, as condições da saúde mental no Brasil têm evoluído ao longo dos anos. No entanto, a luta antimanicomial continua em vigor. Manifestações em todo o país ainda ocorrem no dia 18 de maio, com o objetivo de manter vivo o cuidado com os indivíduos afetados e deixar claro que eles não devem ser excluídos ou maltratados pela sociedade, como ocorria no passado. Em vez disso, busca-se orientar e acompanhar essas pessoas, ajudando-as a encontrar seu lugar no mundo e promovendo sua inclusão plena.
Por: Gabriel Dau