• Estudo foi encomendado ao Datafolha pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, com objetivo de fornecer às redes de ensino dados e evidências que ajudem na estratégia da oferta de atividades não presenciais aos alunos na pandemia.
• Foram realizadas 1.028 entrevistas com pais ou responsáveis por 1.518 estudantes da rede pública em todo o Brasil, entre os dias 18 e 29 de maio.
• Maior parte dos alunos acessa as atividades que são ofertadas por meio de algum equipamento tecnológico (internet pelo celular ou computador, TV ou rádio) e a maioria desses alunos (84%) se dedica mais de uma hora por dia aos estudos. Segundo os pais ou responsáveis que responderam à pesquisa, 82% dos estudantes estão fazendo a maioria das atividades escolares.
• Do ponto de vista dos pais ou responsáveis, metade acredita que o aprendizado das crianças e jovens está evoluindo, enquanto 54% veem motivação dos alunos nas aulas. Porém, 31% temem que o aluno desista da escola se não conseguir acompanhar as aulas em casa e 58% consideram muito difícil para as crianças sob sua responsabilidade manter rotina de estudos. Esta dificuldade de acompanhamento está relacionada principalmente à falta de tempo dos adultos e à dificuldade para que eles expliquem as matérias.
• Perfil dos estudantes da pesquisa: 55% se declaram pardos ou pretos, 37% brancos, 2% amarelos, 2% indígenas, e 4% outros. Estudantes com menor nível socioeconômico tiveram menos acesso a atividades pedagógicas não presenciais.
A pandemia da Covid-19 obrigou as escolas a fecharem suas portas aos estudantes e impôs uma realidade até então inédita na educação do Brasil e do mundo.
Ainda assim, a rede pública de ensino brasileira está conseguindo ofertar atividades não presenciais aos seus estudantes, em um esforço conjunto de secretarias de educação, gestores e professores, que em tempo recorde conseguiram reunir uma série de alternativas para dar continuidade ao aprendizado.
Ao mesmo tempo, pais ou responsáveis e os próprios alunos tentam se adaptar ao novo cenário. Isso é o que mostra uma pesquisa do Datafolha realizada a pedido da Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures.
Foram efetuadas 1.028 entrevistas com pais ou responsáveis por 1.518 estudantes da rede pública em todo o Brasil. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
A pesquisa quantitativa teve abordagem telefônica, a partir de sorteio aleatório de números de telefones celulares, e foi realizada entre os dias 18 e 29 de maio de 2020.
Em menos de três meses de pandemia no Brasil, é possível afirmar que 74% dos estudantes das redes municipais e estaduais estão recebendo algum tipo de atividade para fazer em casa.
Entre os alunos do Ensino Médio, esse número chega a 85%.
O índice de acesso ao material é alto, pois as atividades e o conteúdo pedagógico foram disponibilizados de diferentes maneiras – plataformas digitais, materiais impressos, videoaulas gravadas e, até mesmo, rádio e televisão -, considerando as diversas realidades dos estudantes.
As atividades ofertadas pelas escolas por meio de algum equipamento tecnológico (internet pelo celular ou computador, TV ou rádio) correspondem a 37%, por material impresso 3%, e recebem tanto impresso quanto por tecnologias, 34%.
“O material não substitui de nenhuma maneira o professor ou a interação social que a escola proporciona, mas mostra como a tecnologia pode ser uma boa aliada na educação”, diz Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
“Essa é a primeira de uma série de três pesquisas que têm por objetivo apoiar os gestores públicos com dados e evidências para um melhor planejamento das suas ações na pandemia. Os desafios são muitos, tanto dos estudantes quanto dos professores e gestores, que precisam pensar em novas formas de ensino-aprendizagem para manter a motivação dos estudantes e evitar o abandono escolar”, diz Angela Dannemann, do Itaú Social.
Como as crianças estão estudando em casa?
A rotina dos estudantes em casa foi outro ponto abordado com pais e responsáveis. 84% dizem que os estudantes se dedicam mais de uma hora por dia aos estudos em casa, sendo que 29% passam mais de três horas diárias.
E 82% estão fazendo a maioria das atividades escolares enviadas pela escola.
Entre as principais dificuldades das atividades não presenciais estão: acesso à internet (23%), dificuldade com conteúdo (20%), falta de equipamentos (15%) e falta de interesse no conteúdo (15%).
A pesquisa mostra, ainda, que metade dos pais ou responsáveis dos alunos que receberam algum material acredita que o aprendizado está evoluindo em casa e 54% veem motivação dos alunos nas aulas.
71% também acreditam que o relacionamento em casa não piorou após o início das atividades remotas. Por outro lado, 31% dos respondentes demonstraram preocupação com a evasão escolar.
Esse percentual é ainda mais alto entre pais com baixa escolaridade e menor renda.
Dos pais com medo do estudante desistir de frequentar a escola quando as aulas voltarem, o percentual é maior para responsáveis com apenas o ensino fundamental (40%), com até dois salários mínimos mensais (36%), com estudantes da cor preta (37%) e das escolas com menor nível socioeconômico.
Acesso à internet e desigualdade regional
A pesquisa Datafolha deixa claro que as redes públicas deram passos largos nesta pandemia para chegar aos alunos e superar os desafios.
Porém, eles ainda são muitos, como o próprio estudo demonstra. As desigualdades regionais são grandes, por exemplo, na oferta das atividades pedagógicas não presenciais.
Na região Norte, pouco mais da metade dos alunos (52%) receberam atividades escolares na pandemia, e no Nordeste, 61%.
Em contrapartida, na região Sul, 94% dos estudantes receberam algum tipo de atividade pedagógica não presencial, seguido por Sudeste, 85%, e Centro-Oeste, 80%.
Do total de respondentes da pesquisa, 24% dos estudantes das redes públicas não receberam nenhum tipo de atividade não presencial na pandemia.
Essas crianças e adolescentes são, na maioria, moradoras de favelas ou comunidades (57%), estudam em escolas municipais (67%), cursam o Ensino fundamental 1 ou 2 (90%) e são pretas ou pardas (60%).
42% residem na região Nordeste e 22% no Norte do país.
Os pais ou responsáveis apontam a falta de comunicação ou de explicações por parte das escolas como um dos principais motivos para o não acesso às atividades durante a pandemia (40% justificam desta forma).
Equipamentos usados pelos estudantes
Outro ponto importante apontado é o acesso dos estudantes aos equipamentos eletrônicos. A maioria das famílias (95%) possui telefone celular.
59% dizem ter internet banda larga na residência. 50% afirmam ter de 1 a 3 equipamentos com acesso à internet, 46% com mais de 4 equipamentos e apenas 4% sem nenhum equipamento.
Aqui também as diferenças regionais são grandes. Enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste os estudantes com internet banda larga são, respectivamente, 71%, 65% e 65%, na região Norte apenas 37% declararam possuir internet, e 53% no Nordeste.
Perfil dos estudantes
• Gênero
47% feminino
53% masculino
• Por Ciclo escolar
44% no EF1
36% no EF2
20% no Ensino Médio
• 5% tem algum tipo de deficiência
• Cor declarada
48% pardos
37% brancos
7% pretos
2% amarelos
2% indígenas
4% outros
Perfil dos Responsáveis
• Idade
4% de 18 a 24 anos
30% de 25 a 34 anos
41% de 35 a 44 anos
22% de 45 a 59 anos
2% mais de 60 anos
• Parentesco
64% mãe
23% pai
5% avô/avó
5% tia/tio
3% irmão/irmã
3% padrasto/madrasta
• Cor declarada
47% parda
32% branca
12% preta
3% amarela
2% indígena
4% outros.
• Renda das famílias
73% até dois salários mínimos
13% de 2 a 3sm
7% de 3 a5 sm
3% de 5 a 10 sm
1% mais de 10 sm
2% recusa/não sabe
• Renda na pandemia
55% teve a renda reduzida
33% ficou igual
11% a renda aumentou
• Residência
35% vivem em capital ou região metropolitana
65% no interior
• Crianças ou adolescentes em idade escolar por residência
61% um estudante
30% dois estudantes
17% três ou mais estudantes
(média de 1,5 estudantes por residência)