Artigo: Empreendedorismo contábil e o fim do “Samba de uma nota só”




Sped, eSocial, Bloco K, e-Financeira, EFD-Reinf. São tantas as mudanças, que quem trabalha em um escritório contábil já deveria ter se acostumado. Mas a velocidade de implantação das novas tecnologias tributárias é tão grande, que congressos, seminários e cursos voltados aos profissionais do setor contábil são marcados pelo debate sobre este tema.

Porém, mesmo com todas as mudanças anuais promovidas pelo fisco, a tão almejada valorização do setor contábil ainda parece um sonho inalcançável – pelo menos para alguns.

O problema é que pensar apenas em atender às obrigações e prestar contas ao governo não agrega valor para os clientes. É preciso prestar atenção no mercado, na demanda dos clientes, nos novos concorrentes e tecnologias. Todos os setores econômicos estão vivendo uma “Uberização”. Na contabilidade não é diferente.

O perfil do empreendedor brasileiro está em franca transformação. Há pequenas empresas cujos sócios são mais instruídos e capacitados, demandando melhor atendimento e mais serviços.

Recentemente, utilizei a metodologia global NPS (Net Promoter Score) para avaliar este quesito. Foram mais de 2 mil respostas de empresários. Tivemos 42% classificados como detratores dos escritórios e 33% como promotores. Na prática, isso mostra que temos um terço dos escritórios trabalhando com excelência, transformando seus clientes em verdadeiros fãs.

A mudança de perfil do empreendedor foi detectada na pesquisa NPS. Dentre as respostas qualitativas de quase 2 mil empresários, uma das considerações mais recorrentes foi a demanda por maiores proatividade e presença. Não foram poucas as reclamações sobre a falta de orientações preventivas, a fim de se evitarem problemas.

Uma resposta resume esta situação. Quando perguntado sobre quais mudanças que o seu atual escritório contábil teria de fazer para melhorar, o cliente disse: “dar maior atenção à minha empresa em relação ao que devemos fazer para não termos problemas futuros com impostos (…).” Outro empresário reclamou: “são totalmente reativos aos processos contábeis, e muitas vezes deixam coisas que só ficamos sabendo quando o problema já ‘estourou’.”

“Atuação mais proativa e consultiva. Trazer soluções para problemas que eu nem sei que tenho. Aproveitar melhor as ferramentas digitais”, sintetizou outro entrevistado.

Muitos sugeriram também o maior uso de tecnologia da informação para integrar os dados entre empresas e escritórios: “Automatizar os processos e me ajudar a ter mais desempenho no negócio com conselhos administrativos e/ou direcionamento na tributação”; “Informatizar com um portal completo para os clientes, para poder acompanhar a vida contábil da empresa, fazer solicitações e tirar dúvidas”.

Um terceiro item recorrente diz respeito à compreensão da realidade das empresas, à personalização do atendimento e à especialização no setor de atividade do cliente. Situação resumida pela frase: “Maior disponibilidade e melhor entendimento do meu segmento de trabalho”.

Por fim, inúmeras foram as reclamações quanto à qualidade do atendimento e ao compromisso com prazos e demandas empresariais e legais. Por outro lado, os escritórios bem avaliados criaram uma legião de promotores, que claramente demonstraram cuidado no atendimento, compromisso com prazos, uso de tecnologia da informação para integração de dados e comunicação com os clientes, além de especialização e proatividade. Um desses promotores, quando perguntado sobre o que seu escritório sabe fazer muito bem, respondeu: “Me deixar tranquilo”.

O debate sobre as estratégias para valorização dos serviços contábeis precisa ser incluído na agenda de todos os eventos da área. Mais que isso, essa discussão deve sair do campo emocional e abordar técnicas, metodologias, melhores práticas para a gestão estratégica dos prestadores de serviços contábeis. Ou seja, substituir o bate-papo passional por modelos científicos globalmente aplicados com vistas à geração de valor.

Enfim, ficar no samba de uma nota só das obrigações fiscais jamais criará tal percepção positiva por parte de quem paga a conta: o cliente.

(*) Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franquia Contábil, primeira deste setor no país.

[useful_banner_manager banners=21 count=1]

jornalcontabil

Recent Posts

Brasil atinge 21,6 milhões de empresas ativas em 2024; Simples Nacional domina 84% do mercado

Introdução ao Relatório Jornal Contábil de Empresas no Brasil O Brasil encerrou 2024 com 21,6 milhões…

3 horas ago

Artigo: O empresariado brasileiro e o ano mais difícil na transição pós-reforma

A reforma tributária, solução para simplificar a tributação sobre o consumo, apresenta desafios significativos para…

4 horas ago

Inscrições para o Fies abertas até sexta-feira, dia 7. Veja como fazer

Se você participou de alguma edição do Enem, quer parcelar seus estudos e está tentando…

5 horas ago

Inteligência Artificial e os escritórios contábeis: uma parceria estratégica para o futuro

A inteligência artificial (IA) está transformando diversos setores da economia, e com os escritórios contábeis…

7 horas ago

Dia Mundial do Câncer: campanha estimula prevenção e INSS tem benefícios garantidos

Nesta terça-feira, dia 04 de fevereiro, é uma data dedicada ao Dia Mundial do Câncer.…

8 horas ago

Seu Escritório Contábil Está Pronto para o Deepseek?

A integração de inteligência artificial (IA) avançada, como o Deepseek, está transformando a contabilidade em uma…

9 horas ago