Esta semana, os noticiários estamparam o risco de um apagão no segundo semestre deste ano.
Em entrevista às emissoras de TV, o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales culpou a seca que atinge os reservatórios das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Sales afirmou que a situação não é tão grave quanto a da crise de 2001, quando o Brasil promoveu o racionamento prolongado de energia por falta de capacidade do sistema elétrico.
Mesmo assim, pode não haver energia suficiente nos horários de pico ao longo do segundo semestre de 2021.
O nível dos reservatórios no Brasil é o pior da série histórica, pois as represas das hidrelétricas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste estão com 32% da capacidade.
E, para quem não sabe, essas represas são responsáveis pela geração de mais da metade da energia no nosso país.
Para agravar ainda mais a situação, chegamos no período em que as chuvas são mais escassas e, por isso, a produtividade das hidrelétricas deverá cair ainda mais.
Para contornar o problema, o ONS (Operador Nacional de Sistema Elétrico) aciona as usinas térmicas que geram eletricidade a partir de gás natural, óleo, carvão ou diesel.
As chuvas mais fortes só retornam no fim do ano e, até lá, há a possibilidade que nos horários de pico, onde a demanda de energia é maior, as usinas não consigam suprir a demanda.
Aí há a possibilidade de ocorrer um blackout ou apagão. Em pronunciamento em rede nacional na última segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu que os brasileiros economizem energia elétrica e evitem o desperdício de água.
O Brasil passa por uma crise hídrica, a pior das últimas décadas, e essas medidas, ajudam a reduzir a pressão sobre o sistema elétrico.
O Ministro afirmou ainda que a pasta está finalizando um programa voluntário que incentiva as empresas a deslocar seu maior consumo de energia para os horários de menor demanda, sem afetar a sua produção.
Conta de luz ainda mais cara
Com o uso prolongado de usinas térmicas, a consequência é energia mais cara. O consumidor é quem deve sentir este impacto no reajuste das tarifas de energia em 2022 e 2023.
A energia produzida das térmicas é mais cara do que a das hidrelétricas.
O reajuste das tarifas é calculado periodicamente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), conforme o contrato com a empresa prestadora do serviço, com base na média do custo da eletricidade.
Além do reajuste da tarifa, a conta de luz já está no patamar mais caro para o consumidor por causa da crise hídrica.
A Aneel acionou neste mês a bandeira vermelha 2, devido à seca que impacta na produção de energia.
Impactos na economia
O Instituto Acende Brasil é um centro de estudos que monitora o setor elétrico brasileiro e trabalha em projetos para a transparência e sustentabilidade.
A falta de energia em horários de pico poderia forçar empresas a mudar a rotina de trabalho ou reduzir a capacidade de produção.
Segundo Cláudio Sales, eventuais alterações tendem a impactar negativamente a economia.
Bandeira vermelha, energia mais cara
Em maio, o Brasil estava sob bandeira vermelha 1, que cobra um adicional de R$ 4,16 a cada 100 kilowatt-hora (kW/h) utilizados.
Com a revisão da bandeira vermelha para o patamar 2, passamos a pagar R$ 6,24 a mais a cada 100 kilowatt-hora (kW/h) consumidos – medida que deve valer até o fim do ano.
Os quatro primeiros meses do ano estávamos sob a bandeira amarela
Como reduzir o risco de apagão?
A resposta segundo os especialistas é investimento. O Brasil precisa de investimentos que ultrapassem R$ 400 bilhões.
Segundo documento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) liberado em janeiro – o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) –, o governo deve buscar consolidar a mudança na matriz energética do país nos próximos 10 anos, firmando a participação maior de energias renováveis.
Ainda segundo a EPE, mais R$ 35 bilhões precisam ser investidos até 2030 para substituir diversos equipamentos em operação na rede de transmissão do país que estão no final de suas vidas úteis.
A empresa recomendou ainda investimentos de R$ 108,7 bilhões no sistema de transmissão para dar conta da expansão das energias renováveis.
O apagão de 2001
Em 2001, a população brasileira foi obrigada a mudar seus hábitos de consumo de energia drasticamente.
O motivo foi o risco iminente de corte de energia elétrica em todo o país, um fenômeno que ficou conhecido como apagão.
Assim como vivemos vinte anos depois, a crise energética estava ligada principalmente à falta de planejamento no setor e à ausência de investimentos em geração e distribuição de energia.
O blecaute que atingiu 18 estados e afetou 70 milhões de brasileiros entre a noite de 10 e a madrugada de 11 de novembro de 2009 foi considerado o mais grave nos últimos dez anos.
O apagão também levantou suspeitas sobre eventuais falhas no sistema de distribuição de energia no país. Segundo cálculo do Tribunal de Contas da União, o prejuízo causado pelo apagão foi de R$ 54,2 bilhões.
Por: Ana Luzia Rodrigues