Estou eu, em uma tarde chuvosa de novembro, fazendo curso muito empolgado quando, em um dos tópicos fala sobre experiência profissional. Não sei o por que me veio a mente o primeiro emprego. Eu tinha 16 anos, era 1998. Meu pai conseguiu com um amigo dele, dono de uma farmácia em nosso bairro.
Lembro como se fosse hoje meu primeiro dia, cheguei ao trabalho sem saber o que faria. Sentei no banco e esperei ele vir falar comigo. Essa foi minha experiência, eu começava às 14h e ia até às 18h. Ele simplesmente me deixou lá sentado, sem falar comigo até 18h.
Naquela época eu era muito tímido, mas muito tímido mesmo! Falar com todo tipo de pessoas desconhecidas era um pesadelo. Não sabia por onde começar, muito menos o que fazer depois do “Boa tarde”.
Ao perceber minha “bagagem”, logo foi me recomendado que faria apenas serviço de banco e limpeza do local. Bom, pensei comigo, agora tá fácil. Vou no banco, passo um pano e pronto! Doce ilusão.
Primeiro dia de banco ele me entrega um bolo de boletos e uma quantia em dinheiro que fiquei chocado (Não lembro exatamente). Mas foi o suficiente para me deixar perturbado em andar com tanto dinheiro de ônibus.
Lá vem outro desafio, agir naturalmente em público até entrar no banco, pegar aquela fila e entregar tudo ao caixa. Pense em um cara tímido que nem falar com caixa do banco conseguia.
Enfim, depois de uma semana estava craque, sabia minha rotina na farmácia antes de ir ao banco, assim como ao voltar para farmácia o que deveria fazer. Mas depois de passado a “experiência” veio outros desafios, ou queixas, que ele fazia ao meu pai. Isso ai, ao meu pai.
Demora muito para ir ao banco, só faz o que eu peço. Vamos lá, tudo bem que eu era um tapado – gíria dos anos 90. E pelo fato de ir falar com meu pai sobre minhas dificuldades no trabalho me deixou ainda mais desconfortável.
Com esse início turbulento fui aprendendo que a entrega estava acima das expectativas contratadas. Aprendi a limpar melhor o chão, tirar o pó dos remédios, saber a ordem na prateleira e como atender clientes.
Essa jornada de desenvolvimento durou por volta de oito meses. Com o crescimento do bairro e concorrentes a clientela diminuiu ao ponto de não ser possível manter um “auxiliar de farmácia”.
O que eu não aprendi:
2. Relacionamento com empregador: No primeiro dia não foi definido atividades, entregáveis e expectativas. E será que isso é comum hoje em dia?
Mesmo em grandes companhias, muitas vezes no primeiro dia nos colocam ao lado de uma pessoa e pedem para passar o serviço. Ou pior, quando pedem para fazer algo não deixam claro como querem receber ou exatamente o que fazer.
Gerando dúvidas, desconforto, falta de aproximação com o time. Como se fosse um invasor.
Passei por situações semelhantes ainda hoje, onde as expectativas não são alinhadas, ou por achar que tenho uma bola de cristal, vou entregar aquilo que não foi dito. Aqui é bom separar algumas coisas:
- Uma coisa é atingir às expectativas, entregando no tempo esperado, com qualidade e conteúdo esperado.
- Outra coisa é desenvolver algo sobre o que não foi dito. Aprendi uma lição que levo até hoje. Questionar.
Não importa a tarefa, por mais banal que pareça sempre questionar, revisar a solicitação para que a entrega seja à mesma solicitada. Muito comum não saber pedir, ou estar com uma visão parcial do que quer receber.
Muito comum gerentes na correria, urgência do dia a dia não parar para explicar o que precisa corretamente. Já passei por isso muitas vezes. Depois de uns cinco ou dez minutos de papo fica claro para as duas partes e, o mais importante. Trabalho naquilo que realmente precisa.
2. Feedback: O que é feedback mesmo? Brincadeira. Por muito tempo esse termo foi visto como um terror, afronta, hora da “chicotada” face to face.
De acordo com o Google, feedback: é um substantivo masculino. Reação a um estímulo; efeito retroativo. Informação que o emissor obtém da reação do receptor à sua mensagem, e que serve para avaliar os resultados da transmissão.
Na maioria das vezes acompanhado de duas partes, a crítica positiva e negativa. Que eu discordo. Crítica nunca é positiva, neste contexto. Avaliar o desempenho ou capacidade deve ser sobre atividades, entregáveis e comportamento dentro do ambiente de trabalho.
Como compartilhei antes, meu primeiro chefe queixava-se para o meu pai, ao invés de falar comigo. Um comportamento de 20 anos atrás que ainda podemos presenciar nos dias de hoje em grandes companhias.
Quantas vezes tive uma conversa com colega de trabalho sobre meu desempenho, relatado pelo meu chefe para ele. Poxa! Porque não falou comigo? Qual o receio de dar um feedback e querer entender a situação e juntos estabelecer metas e resultados de melhoria.
Feedback não precisa ter data na agenda, não deve ser feito a cada seis meses. São momentos de superação ou desalento em que devemos posicionar uma opinião baseado nas expectativas do time e da empresa.
A ação de comunicar sua visão sobre um resultado deve ser feita em qualquer momento desde que, se apropriada em público faça, do contrário sempre reservado. Respeitar o outro para que haja interação e diálogo. Não vá falar com pai dele OK?!
3. Valor das suas atividades: Sabe o esforço realizado para aprender algo novo, e com isso produzir um relatório mais completo, eficiente e mesmo assim não tem valor nenhum para quem recebe.
Lembro quando neste primeiro emprego, uma das coisas que aprendi rapidamente foi nunca ficar parado. Sempre procurar alguma coisa à fazer. Seja ler bula como tirar tudo da prateleira para limpar.
A atividade de ir ao banco no início era um terror, não gostava de andar com todo aquele dinheiro e aprendi rapidamente horário de pegar ônibus para chegar antes da hora do rush bancário, ou data de pagamento para evitar filas.
Mesmo assim as vezes ouvi umas poucas e boas.
Treinamentos internos ou externos, cursos etc. Buscar novos aprendizados para ter uma melhora no dia a dia é parte obrigatória dos dias atuais. Com cada vez mais cobranças não há como continuar entregando da mesma forma sem estar atualizado.
O que motiva a continuar desenvolvendo novas habilidades pode ter dois fatores, interno e externo. Interno, independente de qualquer fator do ambiente de trabalho, você é o único capaz de mudar a situação em que está.
Buscar novos aprendendizado e se desenvolvendo novas habilidades abre portas. Sugerindo melhorias de processos, propondo mudanças mesmo que pequenas que podem levar a redução de tempo, custo e talvez aumento de receita.
Fora o ponto de zona de conforto. Quando estamos “ligados”, queremos sempre mais, aprender mais. O que coloca em uma posição de destaque. Seja no emprego atual ou para o mercado.
4. Comunicação: Não vou voltar aos anos 90 para falar de falta de comunicação. Mesmo em 2018 temos muitos exemplos de falta/falha de comunicação.
Comunicar de forma clara e objetiva ainda é raro hoje em dia. Transmitir uma mensagem e ter a certeza que foi entregue da forma esperada vai além de falar.
Seja Alexander Graham Bell ou Antonio Meucci – polêmicas à parte, uma das maiores invenções da sociedade foi o telefone. Meucci por uma causa nobre criou o telefone para comunicar do seu escritório com seu quarto, onde ficava sua esposa doente que não podia se locomover.
Após o telefone temos o email, não estou colocando ambos em uma linha linear tudo bem?
Email não tem sentimento, apesar de que em alguns casos (Raros), o entendimento nem sempre é claro. Falta de objetividade, clareza, detalhes ou simples momento de refletir se a do outro lado da tela, o assunto é de conhecimento.
A falta de preocupação em transmitir a mensagem correta ocorre pela falta de revisão. Ler novamente e se colocar no lugar do receptor, procurando entender se ele conhece o tema ou mudar uma palavra de lugar para ter mais sentido. Peace in email guys.
Como não lembrar do relatório entregue onde o retorno quase imediato informando que não era nada do que foi solicitado. #%$&. Depois de ter dedicado um bom tempo descobre que era mais simples do que imaginado. Pode ser culpa daquele email rs.
A comunicação eficiente dentro das empresas reduz esforços, custos e aumenta a produtividade. Imagine aquele relatório importante, esperado para uma tomada de decisão que o seu chefe solicita.
Mas ele não explica todos os pontos necessários, como também não diz o que é esperado claramente. Imagine a reação dele quando receber “parte” do que foi “solicitado”. Não basta comunicar, é importante ter certeza que a mensagem foi entregue como esperado.
Resumindo
Essa experiência do meu primeiro emprego trouxe muita bagagem. Comunicação, pró-atividade, relacionamento e feedback.
Desenvolver novas habilidades, aprender com erros faz com que amanhã os grandes desafios sejam meras etapas para o crescimento. Ter constantemente auto-análise sobre pontos fortes e a desenvolver é um combustível para estar mais capacitado (a).
Ter medo é muito comum seja no primeiro emprego ou na mudança. A mudança por si só gera desconforto. Lidar com pessoas é difícil, mas quando aprende a se colocar no lugar do outro, para entender melhor. Os resultados ficam melhores.
Não há nada melhor que a experiência do dia a dia para ensinar a dinâmica no ambiente de trabalho, isso nunca iremos aprender em livros ou treinamentos. Teremos o conhecimento teórico, ai depois é ir pro abraço e curtir!