Jorge Calazans
Os golpes envolvendo criptomoedas atingiram um novo patamar em 2024, movimentando cerca de US$ 10 bilhões em esquemas fraudulentos. Segundo um estudo da Chainalysis, os fraudadores têm se beneficiado de tecnologias avançadas para criar golpes mais sofisticados e difíceis de detectar. O crescimento de 40% em relação ao ano anterior foi impulsionado por um aliado poderoso e perigoso: a inteligência artificial (IA).
O uso da inteligência artificial tem permitido a criação de identidades falsas altamente convincentes, dificultando a verificação e identificação de transações suspeitas.
Esse cenário traz um novo desafio para as autoridades mundiais no combate aos golpes financeiros. Isso porque, na era da IA, os criminosos criam identidades sintéticas e falsas, permitindo que se passem por usuários reais e, assim, eles conseguem burlar os controles de verificação de identidade. Além disso, a tecnologia tem sido utilizada para desenvolver conteúdos falsos, como sites fraudulentos e anúncios enganosos, tornando os golpes ainda mais convincentes.
Vale destacar que no estudo recente da Chainalysis, o destaque foi o caso do Huione Group, um conglomerado do Camboja que, além de oferecer serviços legítimos, também se tornou um dos principais facilitadores de crimes cibernéticos. Desde 2021, a empresa processou aproximadamente US$ 70 bilhões em transações ilícitas, incluindo a venda de tecnologia para golpes e serviços de lavagem de dinheiro.
Além disso, entre os esquemas impulsionados pela IA, está o “pig butchering”, um golpe que mistura pirâmide financeira e estelionato sentimental. Nessa modalidade, as vítimas são enganadas com promessas de investimentos lucrativos ou relacionamentos amorosos, entregando grandes quantias de dinheiro aos criminosos antes de perceberem que foram enganadas.
O Brasil não ficou imune à onda de golpes com criptomoedas. De acordo com a Polícia Federal e especialistas em cibersegurança, o país tem registrado um aumento exponencial de fraudes financeiras digitais utilizando criptomoedas. Os criminosos brasileiros passaram a empregar as mesmas estratégias utilizadas internacionalmente, incluindo deepfakes para enganar investidores, falsas promessas de rentabilidade e golpes de phishing para roubo de credenciais.
Casos recentes mostram que até figuras públicas têm sido utilizadas como isca para golpes de investimento em criptoativos. Empresas falsas, muitas vezes apresentadas em redes sociais como “oportunidades imperdíveis”, atraem vítimas com promessas de lucros exorbitantes e depoimentos fraudulentos.
Autoridades brasileiras têm intensificado operações para combater esses esquemas, mas a falta de uma regulamentação clara dificulta a punição e a prevenção. O Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) têm estudado novas regras para proteger investidores e ampliar a transparência no setor.
Os golpes com criptomoedas também abalaram a política internacional. Na Argentina, o governo de Javier Milei enfrenta uma crise após suspeitas de irregularidades no lançamento da criptomoeda $Libra.
O apoio público do presidente ao ativo digital fez seu valor disparar momentaneamente, antes de despencar em meio a denúncias de fraude. A suspeita de que pessoas próximas ao governo teriam se beneficiado financeiramente levou Milei a ordenar uma investigação contra sua própria administração.
A crise resultou em uma série de denúncias contra o governo, com opositores alegando que mais de 40 mil pessoas foram prejudicadas pelo esquema. O atual presidente argentino tenta abafar a crise sugerindo que apenas indicou a cripto. O caso ainda está sob investigação, mas reforça a necessidade de maior regulamentação e supervisão sobre o mercado de criptoativos em todo o mundo.
Portanto, o avanço dos golpes com criptomoedas demonstra a crescente sofisticação das fraudes digitais e a urgência de medidas mais rigorosas para combater esse tipo de crime. Enquanto criminosos continuam inovando suas estratégias, autoridades, empresas e investidores devem reforçar suas defesas contra essas ameaças. O desafio agora é transformar a inteligência artificial em uma aliada do bem, garantindo mais segurança e transparência para o ecossistema das criptomoedas.
Jorge Calazans é advogado especializado na defesa de investidores vítimas de fraudes, ativista no combate às pirâmides financeiras e sócio do escritório Calazans e Vieira Dias Advogados
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