Uma nova configuração do trabalho está em construção. Ainda bem. Mesmo antes da pandemia, os modelos de comando-controle e com pouca participação ativa dos colaboradores mostravam sinais de desgaste, com gestores e funcionários constantemente esgotados e sem estímulo.
Uma pesquisa da FIA Employee Experience mostrou que 91% dos funcionários avaliaram a experiência em home office como ótima ou boa. O modelo remoto ou híbrido confere mais autonomia ao funcionário e permite um melhor desenvolvimento de suas aptidões.
Por outro lado, o gestor renuncia ao controle total. Mas como seguir no comando sem estar 100% no controle?
Para que essa nova configuração de trabalho funcione, a comunicação precisou mudar. Conversar, cobrar e instruir à distância se mostrou muito desafiador, e muitos chefes não estavam prontos para isso.
“Infelizmente, alguns gestores não estão devidamente preparados para nos auxiliar da forma mais adequada. Um feedback à distância deve focar muito mais na questão da entrega e da qualidade das tarefas do que no comportamento, uma vez que não estamos interagindo como em um escritório”, afirma Beatriz Machado, autora do livro “O Subordinado”, obra que desmistifica a ideia de inferioridade dos trabalhadores sem cargo de liderança e os auxilia a tomar o mando de suas próprias carreiras.
Para a especialista, o feedback se tornou um momento de tensão dentro das empresas exatamente por essa falta de preparo e comunicação, tanto da chefia quanto dos funcionários, e ele se tornou restrito à avaliação de desempenho obrigatória.
Mas esse “parecer” é fundamental para o andamento de qualquer trabalho, especialmente quando não estamos fisicamente presentes para isso.
“A comunicação clara, transparente e assertiva é uma das principais características do trabalho em equipe. E o feedback é a maior ferramenta para dizer se o funcionário está na direção correta das metas que o time e a empresa têm”, completa Beatriz. Mas, por causa da distância, é preciso cuidado no discurso para evitar ruídos no que se deseja comunicar.
Seja para um modelo híbrido de trabalho ou para falar com alguém que está a quilômetros de distância, é possível ter um feedback construtivo com 3 fatores-chave:
Preparo:
Quanto menos preparados estamos para uma tarefa, maior a probabilidade de não a realizarmos bem, e com o feedback não é diferente.
Ao se preparar, você tem a oportunidade de construir um “roteiro” do que será aquela conversa, o que o deixará mais confiante quanto aos rumos que ela pode tomar.
“Quando você e seu gestor são parceiros nessa tarefa, os momentos de troca entre vocês ganham um novo tom, tornam-se prazerosos e ambos sentem que estão construindo algo importante”.
Comunicação não violenta (CNV):
O momento do feedback deve se tornar um momento de reconhecer nossos pontos fortes e aspectos a melhorar, bem como de tratar nossos gestores como parceiros, que tem como uma das funções auxiliar em nosso desenvolvimento.
Muitas vezes, contudo, a forma como nos comunicamos pode provocar um mal-entendido, apesar do mindset positivo que determinamos para o feedback.
A CNV propõe quatro passos simples: observar a situação, identificar seu sentimento em relação a ela, identificar a sua necessidade e fazer um pedido ao seu interlocutor.
“A ideia é que seu interlocutor responda com mais compaixão, porque você não se colocou contra ele nem iniciou uma discussão sobre o que foi exposto.”
Inteligência emocional:
A Inteligência emocional, segundo artigo de Daniel Goleman, passa pelo desenvolvimento de cinco habilidades principais: autoconhecimento, autocontrole, motivação, empatia e destreza social.
Falando especificamente do momento do feedback, duas dessas habilidades são mais requisitadas: autocontrole e destreza social.
Autocontrole se dá pela capacidade de administrar ou redirecionar impulsos causados por um estado de espírito nocivo. Já a destreza social é a capacidade de administrar relacionamentos e conduzir as pessoas na direção desejada. Em uma sessão de feedback, essa habilidade pode mudar completamente a percepção que seu gestor tem de você.
“Está comprovado que feedbacks contínuos aliados a metas claras são essenciais para o bom desempenho dos funcionários. Além disso, abrir-se para esses momentos de troca – entendendo que a vulnerabilidade intrínseca a eles não é ruim, mas uma demonstração de coragem e uma abertura para o desenvolvimento pessoal, nos ajuda a, de fato, crescer como pessoas, profissionais e colegas de trabalho, tanto presencialmente quanto de maneira remota”, finaliza Beatriz.
Sobre Beatriz Machado
Formada em Administração de Empresas, com MBA em Gestão de Negócios pela USP, Beatriz Machado trabalha atualmente na área de marketing de uma multinacional. Ao longo de sua carreira, tornou-se autoridade em Branding Pessoal. Hoje, atua como mentora na área e lança seu primeiro livro, “O Subordinado”, com o propósito de ajudar profissionais a reconhecerem seu valor e mostrá-lo ao mercado e gestores. Beatriz defende que as pessoas comuniquem com segurança aquilo que fazem de melhor para atingirem seus objetivos.