O Grupo Mateus, uma das maiores redes varejistas do Brasil, viu suas ações despencarem mais de 5% após a divulgação de uma autuação da Receita Federal no valor de R$ 1,06 bilhão. A cobrança, que mira a controlada Armazém Mateus, questiona a forma como a empresa calculou seus impostos entre 2014 e 2021, especificamente a exclusão de créditos presumidos de ICMS da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Entendendo o imbróglio tributário
O ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, é um tributo estadual que incide sobre a movimentação de produtos e a prestação de serviços. Em algumas situações, as empresas podem se beneficiar de créditos presumidos de ICMS, que funcionam como uma espécie de desconto no valor do imposto a ser pago.
A Receita Federal alega que a Armazém Mateus teria se utilizado indevidamente desses créditos presumidos, reduzindo artificialmente sua base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Se comprovada a irregularidade, a empresa teria pago menos impostos do que deveria ao longo de sete anos, o que resultou na cobrança bilionária, que inclui multas.
A defesa do Grupo Mateus
Em resposta à autuação, o Grupo Mateus divulgou um fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), buscando tranquilizar o mercado e seus investidores. A empresa argumenta que a Armazém Mateus é beneficiária de subvenções concedidas pelos Estados em incentivos fiscais ligados ao ICMS, o que justificaria a exclusão dos créditos presumidos.
Além disso, o Grupo Mateus ressalta que o auto de infração representa apenas o início de um longo processo administrativo, que permite ampla defesa e contestação. A empresa garante que seus assessores jurídicos e tributários estão analisando minuciosamente a autuação e que apresentarão a impugnação dentro do prazo legal, com todos os argumentos e documentos necessários para comprovar a regularidade de seus procedimentos fiscais.
Impactos e perspectivas
A notícia da autuação bilionária teve um impacto imediato no mercado, com as ações do Grupo Mateus (GMAT3) registrando uma queda significativa. Apesar disso, a empresa mantém uma postura otimista, afirmando que não há necessidade de provisionamento no balanço neste momento, uma vez que a contingência é vista como uma perda “possível”, com base nos “bons argumentos em favor da defesa da Armazém”.
No entanto, é importante ressaltar que o desfecho do caso ainda é incerto. A Receita Federal pode manter sua posição e exigir o pagamento integral da cobrança, incluindo multas. Caso isso ocorra, o Grupo Mateus poderá recorrer à esfera judicial para tentar reverter a decisão.
Independentemente do resultado final, a autuação serve como um alerta para todas as empresas, reforçando a importância de uma gestão tributária rigorosa e transparente. O cumprimento das obrigações fiscais é fundamental para garantir a sustentabilidade do negócio e evitar problemas com o Fisco, que podem comprometer a saúde financeira da empresa e sua reputação no mercado.
Análise aprofundada
A autuação do Grupo Mateus levanta questões importantes sobre a complexidade do sistema tributário brasileiro e a necessidade de uma reforma que simplifique as regras e reduza o contencioso entre contribuintes e o Fisco. A legislação tributária é extensa e sujeita a diferentes interpretações, o que gera insegurança jurídica e aumenta o risco de autuações.
Além disso, o caso evidencia a importância da governança corporativa e da gestão de riscos. As empresas devem contar com profissionais qualificados e sistemas eficientes para garantir o cumprimento das obrigações fiscais e evitar práticas que possam ser questionadas pelo Fisco.
Por fim, a autuação do Grupo Mateus serve como um lembrete de que o ambiente de negócios é dinâmico e exige constante atualização e adaptação. As empresas devem estar atentas às mudanças na legislação e às decisões dos tribunais, para garantir que suas práticas estejam em conformidade com as normas e evitar surpresas desagradáveis.