Inovação exige pensar fora da caixa, mas como fazer isso?




Tive o privilégio de participar, a convite da HSM, da edição 2015 da Expo Management onde se apresentaram alguns dos maiores ícones da administração moderna. A seguir, o primeiro de uma série de dois artigos nos quais compartilho com você os principais “insights” que tive do evento, complementados com a minha visão pessoal de como aplicá-los em sua vida pessoal e profissional.

O que mais me impactou nos primeiros dias do evento foi a conversa que tive com o Prof. Clóvis de Barros Filho. Ao entrevistá-lo, perguntei como aplicar a filosofia ao empreendedorismo e ele respondeu com frases que fogem ao lugar comum. “Não há transformação no mundo que não tenha efeito positivo para alguns e negativo para outros”.

O mais difícil, contudo, é convencer as pessoas que a inovação é necessária quando tudo vem dando certo. O ditado popular “em time que está vencendo não se mexe” espelha a atitude dos gerentes (em geral), mas é contra as boas práticas de empreendedorismo.

O problema é justificar o risco de tomar uma decisão que pode ser (e na maioria das vezes é) errada, quando olhando pelo retrovisor, tudo parece levar a crer que não é necessário mudar.

O vídeo da entrevista está disponível em claudionasajon.com.br/clovis-de-barros-filho.

Outro insight interessante veio do autor do best-seller “Ponto da virada”, Malcolm Gladwell. Ele defendeu a ideia de que as grandes inovações ocorridas nas últimas décadas, incluindo rádio, Waze e Airbnb, por exemplo, dependeram muito menos da tecnologia do que da aplicação que se deu a ela.

As tecnologias dessas aplicações já existiam muito antes de serem usadas da forma como as conhecemoss. A sua popularização só ocorreu quando alguém soube dar-lhes um uso para o qual não foram planejadas originalmente (por isso não “vingaram” no momento em que foram criadas), e com isso, resolveu algum problema que as tornou valiosas.

A tecnologia para o forno de Microondas, por exemplo, já existia desde 1940. A sua difusão em escala global, contudo, só aconteceu muitos anos depois quando Percy Spencer, que trabalhava para a empresa Raytheon, ao fazer experiências com um novo tubo de vácuo chamado Magnétron, percebeu que a barra de chocolate que estava em seu bolso começara a derreter. Ao tentar um experimento com milho de pipoca, e este começou a estourar, viu seu potencial de uso.

Moral da história: muitas vezes buscamos tecnologias inovadoras ou recursos além das nossas possibilidades, quando às vezes um simples reposicionamento pode solucionar o problema.

Você provavelmente já conhece a história (ou anedota) dos americanos gastando milhões para fazer canetas pressurizadas para funcionar no ambiente espacial. sem gravidade, enquanto os russos usavam lápis. É disso que falamos.

Por outro lado, para ter sucesso, não basta ter a tecnologia ou descobrir um uso para ela. É preciso também estar sincronizado com o mercado. Jim McKelvey, fundador da Square, startup do Vale do Silício avaliada em mais de US$ 5 bilhões, ilustrou o conceito de que “sorte” é estar “no lugar certo na hora certa”. De acordo com Jim, muitas soluções inovadoras não deram certo simplesmente porque o mercado não estava preparado para elas (bad timming) enquanto outras, não tão inovadoras, foram bem sucedidas porque apareceram na hora certa. Ele não disse COMO identificar o momento certo, mas sei muito bem o que ele quis dizer.

Um dos empreendimentos que falharam mais epicamente na minha carreira como investidor-anjo, ou como costumo me referir a eles, uma das mais caras “lições aprendidas”, foi um sistema de pagamentos via SMS. Não vou perder tempo explicando como funcionava mas, grosso modo, era algo semelhante aos aplicativos que permitem pagar uma corrida de taxi usando o celular. Em nosso caso, o pagamento era feito por SMS (na época, apenas 5% dos celulares tinham acesso à Internet). Tinhamos a tecnologia, os contatos e a infraestrutura, mas não havia demanda do mercado. Aprendi na prática que “criar demanda” ou “educar o mercado” é tarefa para peixes grandes, não para startups.

Hoje faço tudo ao contrário – primeiro vejo que está “bombando” no mercado e aí invisto nas soluções que orbitam esse setor. Funciona bem melhor do que fazer produtos inovadores com soluções fantásticas, mas para um mercado que ainda não as conhece.

Uma forma de reduzir esse “custo de capacitação do mercado” é criar plataformas colaborativas. Essa, pelo menos, foi a tônica da apresentação de Robin Chase, fundadora da Zipcar e considerada uma das 50 mulheres mais inovadoras do mundo pela revista Fast Company.

Depois de mostrar como estamos destruindo o mundo com o aquecimento global resultante do uso excessivo dos recursos planetários, ela deu uma levantada no moral da audiência ao mostrar como podemos resolver o problema usando a “capacidade ociosa” de alguns desses recursos.

Claro que ela puxou a sardinha para o Zipcar, um sistema de aluguel de carros “por hora” que hoje tem mais de 13.000 veículos no mundo, mas ela também falou da oferta de “camas” gerada pelo Airbnb. Quando Obama anunciou o reatamento das relações com Cuba, em poucos dias foram disponibilizados no Rbnb, mais de 2.000 quartos naquele país. Isso corresponde a cerca de dez hotéis de médio porte. Nenhuma rede conseguiria fazer isso da forma convencional em tão curto espaço de tempo – e isso sem gastar nem um cm3 de CO2! Em outras palavras, podemos suprir boa parte das demandas mundiais usando a capacidade existente HOJE, em vez de consumir mais recursos, se usarmos as ferramentas adequadas.

Para poder usar a capacidade ociosa de um recurso qualquer, contudo, existem algumas premissas que devem ser satisfeitas.

A mais importante é você poder “fatiar” o seu uso. Por exemplo: um carro na sua garagem é usado cerca de 5% do tempo. As locadoras tradicionais “fatiam” por dia. O Zipcar fatiou por “hora” e facilitou o processo de forma que você acha carros em quase qualquer lugar (nas cidades onde a zipcar atua) e leva menos de cinco minutos para fazer a reserva usando o seu smartphone.

Na prática, tudo isso significa que existem formas de você aumentar a renda da sua empresa, ou a sua pessoal, usando a “capacidade ociosa”, recursos que possam ser “fatiados” e vendidos (ou alugados) a granel. Pode ser seu tempo (usando as habilidades profissionais como freelancer), por exemplo, ou alugando espaço não usado em sua empresa, só para mencionar alguns exemplos.

Um caso que ilustra esse conceito é o da Nasajon Educacional, a unidade de treinamento da Nasajon Sistemas. O prédio de seis andares onde temos salas de aula, laboratórios de informática, auditórios e até uma incubadora de negócios nem sempre tem ocupação integral. Como há horários nos quais as salas ficam vazias, começamos a aluga-las para outras instituições. Na prática o nosso custo não aumentou de forma perceptível e, por outro lado, conseguimos uma receita adicional para ajudar a bancar a operação. É algo equivalente a alugar o seu quarto de visitas no Rbnb ou ceder o seu carro para um motorista usá-lo no Uber, gerando receita adicional para ambos nas horas em que você não precisar do veículo.

No próximo artigo continuo. Até lá!

Claudio Nasajon

Artigo publicado no Portal InfoMoney, por Claudio Nasajon, Fundador e Presidente da Nasajon Sistemas.

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