Desde outubro de 2016, o Banco Central iniciou sucessivos cortes na taxa Selic. Nesse intervalo, ela saiu de 14,25% para 5,5% ao ano, patamar em que está hoje. Como essa é a taxa básica de juros da economia, quando ela fica menor, os juros dos empréstimos e financiamentos também devem diminuir. Mas será que foi isso que aconteceu nas principais linhas de crédito pessoal? Segundo um levantamento do Valor Data, sim, para felicidade dos brasileiros.
A taxa Selic caiu 8,7 pontos percentuais de 2016 até agora. No mesmo intervalo, seis das nove linhas de crédito avaliadas pelo Valor Investe tiveram um corte nos juros maior do que o da Selic.
A média das taxas praticadas no cheque especial, crédito pessoal não consignado, consignado do setor público, consignado do setor privado, aquisição de outros bens e cartão de crédito rotativo caíram mais do que a Selic entre 2016 e 2019.
No rotativo, no entanto, a queda de 175,6 pontos percentuais nas taxas médias praticadas não foi devido aos cortes da Selic. A principal explicação vem das mudanças feitas pelo Banco Central nesse tipo de crédito. Em junho de 2018, por exemplo, o BC passou a exigir que fosse cobrada dos clientes apenas a taxa do rotativo chamada de “regular”, que é definida em contrato. Antes, era cobrada a taxa do rotativo não-regular (geralmente bem mais cara) de quem não pagava o mínimo.
Por outro lado, o consignado para aposentados e pensionistas do INSS e os empréstimos para aquisição de veículos caíram menos do que a Selic no intervalo. Já o parcelado do cartão de crédito chegou a subir no mesmo período.
Taxas de juros ficaram menores
Variação em pontos percentuais nas taxas médias | Taxa de juros média atual – em % ao ano (out/2019) | |
Cartão de crédito rotativo | -175,6 | 345,4 |
Cheque especial | -22,8 | 208,1 |
Aquisição outros bens | -22,0 | 55,2 |
Crédito pessoal não consignado | -17,4 | 212,6 |
Consignado setor privado | -9,0 | 38,2 |
Consignado setor público | -8,4 | 25,7 |
Consignado INSS | -7,1 | 24,3 |
Aquisição de veículos | -5,2 | 22,7 |
Cartão de crédito parcelado | 22,4 | 195,1 |
Taxa Selic | -8,8 | 5,5 |
Fonte: Banco Central, Valor Data e Febraban
Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a mudança vista nas taxas de juros era esperada, já que com a queda da Selic, os bancos passaram a captar dinheiro de forma mais barata. Portanto, era esperado que eles “repassassem” isso ao cliente também com custos menores.
Ele lembra, porém, que a Selic não é o único componente que interfere no “custo” dos empréstimos às pessoas físicas.
“A Selic é a taxa que os bancos captam recursos. Só que eles captam e acontece várias coisas no meio do caminho até eles emprestarem o dinheiro aos clientes deles. O preço final do ‘produto’, ou seja, do empréstimo, pode não cair tanto, porque tem custo de logística, salários e outras coisas que podem interferir no processo”, diz.
É justamente nesse ponto que entra o que compõe o famoso “spread”. A palavra em inglês se refere à diferença do custo do banco para se captar um dinheiro e emprestá-lo depois. Além dos juros, entram nessa conta fatores como a taxa de inadimplência. Quanto maior ela é, maiores são os riscos do banco tomar calote, então ele aumenta os juros para ‘se proteger’.
Outras coisas levadas em consideração para o banco calcular o quanto ele vai “cobrar” para emprestar aquele dinheiro são os custos tributários, operacionais e o depósito compulsório, que trocando em miúdos é como se fosse o dinheiro que os bancos devem deixar como “garantia” no Banco Central.
Sardenberg ainda afirma que as taxas que menos caíram são as de linhas de créditos já baratas. “Por isso não há tanto espaço para cortar mais”, explica o economista.
Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, mesmo com os cortes, tomar crédito no Brasil ainda é muito caro. E as notícias não são animadoras. Segundo o professor, os empréstimos só devem baratear quando a concorrência no setor aumentar.
Porém, apenas a entrada de novos players no mercado de crédito, como as fintechs – empresas que prestam serviços financeiros (fin) de forma mais tecnológica (tech) – não será o suficiente.
Segundo Viriato, essas empresas já começaram a atuar no Brasil, mas atendendo a um nicho que as grandes instituições financeiras não olham: os desbancarizados. “Eles dão crédito para aquelas pessoas que os bancos nem querem. Então, as taxas são altas”, diz.
Para ele, o que vai mudar esse cenário é o chamado sistema “open banking“, que permitirá o compartilhamento das informações financeiras de correntistas bancários com outras instituições, por meio da integração de plataformas, desde que haja consentimento do cliente.
“Dessa forma, outras empresas além do banco no qual aquela pessoa tem conta vão conhecer a vida financeira daquele cliente. Se ele for um ‘bom pagador’, essas outras instituições vão oferecer um crédito mais barato para ele”, afirma.
Assim, conforme fintechs e novas empresas baratearem os empréstimos para pessoas com a vida financeira saudável, os bancos e financeiras maiores também deverão diminuir as taxas para se manterem competitivos.
Para Sardenberg, da Febraban, uma melhora no cenário econômico também pode ajudar a fazer as taxas caírem. “Quando a economia começa a crescer, o nível de atividade aumenta, o apetite dos bancos aumenta, e a possibilidade de assumir riscos também”, afirma.
Segundo o economista, a evolução do mercado de crédito é “pró-cíclica”, porque quando a economia cresce, as expectativas ficam mais otimistas e toma-se mais crédito. Então, os bancos podem emprestar a taxas menores.
Fonte: Valor Investe
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