Estar disponível para o trabalho a qualquer hora, fazer horas extras voluntariamente e checar periodicamente o e-mail corporativo em casa podem até parecer atitudes de um contador exemplar. No entanto, quando se dedicar à profissão se torna mais prazeroso do que relaxar e estar com a família, é hora de acender o sinal vermelho. Cada vez mais trabalhadores se transformam em workaholics — viciados em trabalho —, um problema que, segundo especialistas, vem aumentando graças à tecnologia (e à facilidade de estar sempre conectado) e ao atual modelo produtivo, que obriga todos a fazer cada vez mais em menos tempo.
Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) mostrou que 23% dos profissionais brasileiros têm tendência ao “workaholismo”, como também é chamado o vício em trabalho. Entre executivos que ocupam altos cargos, o índice chega a espantosos 90%, conforme apontou um estudo do Centro Psicológico de Controle do Stress (CPCS) feito há cerca de três anos.
— O workaholic é uma pessoa que tem desequilíbrios em outras áreas da vida. Então, ela usa o trabalho para buscar compensação e se sentir gratificada — explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR.
O problema, em geral, leva à ansiedade, angústia e até depressão. Entre as principais consequências físicas, estão tensão muscular; dor de cabeça, nos ombros e nas costas, além de doenças gastrointestinais — já que o viciado em trabalho costuma se alimentar mal, sem sair da mesa do expediente, para não perder tempo.
‘Workaholic’ é diferente do ‘worklover’
Para o psiquiatra Roberto Shinyashiki, é preciso diferenciar o worklover (quem ama o trabalho) do workaholic:
— O worklover trabalha muito, mas também relaxa e se diverte muito. O workaholic não consegue se divertir nem relaxar e, principalmente, tem dificuldade de se relacionar com as pessoas.
O estágio mais grave do workaholismo é o karoshi, que em japonês significa “morte por excesso de trabalho”. Nesses casos, o organismo entra em falência por uma série de excessos, como trabalhar horas e horas sem dormir.
De acordo com a psicóloga Marilda Novaes Lipp, diretora do CPCS, além da tecnologia e do atual modelo de gestão das empresas, as práticas adotadas por pais na educação dos filhos está contribuindo para que mais pessoas se viciem em trabalho.
— As crianças modernas estão sempre em alguma aula, se preparando para uma vida de ocupação. Os pais estão ensinando que o lazer não é importante — analisa.
O Contador viciado em trabalho não costuma admitir que está com problemas. Em geral, a mudança de atitudes só ocorre quando a pessoa adoece. Por isso, para Marilda Lipp, já é hora de as empresas entrarem em ação para mostrar aos funcionários que “quem está equilibrado produz melhor”.
— O certo é valorizar mais a família e o lazer. Se fosse divertido, ninguém receberia para trabalhar — completa.
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