Fique Sabendo: Registro contábil de ativos biológicos vai mudar em 2016

SÃO PAULO  –  O registro de ativos biológicos nos balanços contábeis das empresas deve sofrer uma mudança a partir de 2016. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão que busca a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais, trabalha em minuta sobre o tema, que deverá ser levada a audiência pública ainda neste primeiro semestre, com vigência a partir de 2016.

A norma anterior exigia que todo ativo biológico fosse avaliado a valor justo. Agora, foi excluído da definição de ativo biológico o chamado ativo hospedeiro, que dá origem ao produto biológico vendido. Agora, esse ativo deverá ser marcado ao custo histórico, segundo o coordenador técnico do CPC, Edson Arisa, em evento para divulgar a agenda de atividades do órgão para 2015.

Num exemplo prático, no caso de uma empresa que vende laranjas, a árvore que dá origem ao fruto — produto vendido — é considerada o ativo hospedeiro e deverá passar a ser registrada no balanço a custo, e não mais ao valor justo de mercado. O mesmo ocorre, em outro exemplo, com um touro reprodutor, cujo produto vendido é o sêmen, ou com uma vaca leiteira, cujo produto vendido é o leite. Nesses dois casos, touro e vaca são considerados ativos hospedeiros e passam a ser considerados a custo, como um edifício ou uma máquina de propriedade da empresa.

A mudança deve dar mais estabilidade no valor desses ativos. Isso porque o valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo na data de mensuração. Já o custo histórico considera os valores pagos pelo ativo na data de aquisição — no caso da mudança contábil, haverá a opção de usar a última avaliação feita antes da mudança, fixando-a como custo histórico.

Segundo Arisa, não é possível prever ainda como isso deverá impactar individualmente o resultado da s empresas nacionais ou dizer quem ganha ou perde com a mudança. A norma consta da Revisão CPC 08, que traz várias alterações feitas em pronunciamentos do  Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês), que terão vigência obrigatória em 2016.

Advertisement
publicidade

Reconhecimento de receitas

Outro ponto sensível nas prioridades do CPC para este ano é a norma IFRS 15, que diz respeito ao reconhecimento de receitas pelas companhias. Apesar de ter vigência prevista apenas para 2017, devido à complexidade da questão, o comitê espera analisar a norma até o fim deste ano ou início do próximo, para colocá-la logo em audiência pública. Poderão ser realizadas até duas audiências e até mesmo um encontro presencial, acredita Arisa, que também é sócio na consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).

“Os impactos [da IFRS 15] no Brasil poderão ser relevantes”, afirmou o vice-coordenador de assuntos internacionais do CPC, Nelson Carvalho. O professor da USP explicou que, pela norma, um contrato que contempla diversas atividades terá que ser “desembrulhado”, para que cada receita seja reportada separadamente, no momento em que a empresa tem direito a recebê-la. Com isso, o que hoje é registrado de forma única na linha receita de vendas, pela nova regra terá que passar a ser reportado em várias sublinhas.

Carvalho considera que a medida vai mostrar melhor a realidade econômica das empresas e dará mais transparência para que seja possível saber de fato onde estão os ganhos, apesar de o trabalho para apurar ser maior.

Arisa considera que as companhias de telecomunicações devem estar entre as mais afetadas pela mudança, por trabalharem basicamente com pacotes de serviços. Já Carvalho alerta para as possíveis implicações tributárias na alteração, já que hoje a cobrança dos diversos impostos sobre a receita de vendas — como IPI, ICMS, PIS, Cofins e ISS — deve mudar, com a alteração da linha sobre a qual incidem os tributos.

Advertisement
publicidade

Provisão

Ainda na agenda do comitê para este ano está a norma IFRS 9, com vigência prevista para 2018, e que trata da redução ao valor recuperável de ativos (“impairment”) referentes a provisão para devedores duvidosos (PDD).

Segundo Carvalho, o método usado na norma internacional hoje é a perda incorrida, aquela com evidências objetivas. Já o Banco Central brasileiro utiliza como método a perda esperada, uma estimativa de perda provável. A mudança traz uma mistura das metodologias, tratando parte da provisão como perda esperada e parte como incorrida.

No Brasil, as instituições financeiras continuarão usando a norma estabelecida pelo Banco Central n as suas demonstrações individuais. No entanto, os bancos grandes que publicam suas demonstrações consolidadas sob o padrão IFRS terão que adotar a mudança. “Com isso, haverá duas PDDs para um mesmo banco, no balanço individual brasileiro vai ter a perda esperada que é a norma do Banco Central, e no balanço consolidado em IFRS vai ter esse mix, o que afeta o lucro”, explicou Carvalho.

Matéria: https://www.valor.com.br/empresas/4011062/registro-contabil-de-ativos-biologicos-vai-mudar-em-2016#

Advertisement
publicidade
loureiro

Compartilhe
Publicado por
loureiro

Notícias recentes

Saiba Tudo Aqui: Isenção de Despesas Médico-Veterinárias no Imposto de Renda

Proposta jurídica busca isentar despesas médico-veterinárias no Imposto de Renda, equiparando cuidados com animais aos…

14 de março de 2025

INSS alerta sobre mudança nos benefícios previdenciários

O INSS publicou uma nota informando os segurados sobre uma mudança no recebimento dos benefícios…

14 de março de 2025

Dia do Consumidor: advogada esclarece direitos em compras, cobranças e serviços

O Dia do Consumidor, celebrado em 15 de março, reforça a importância de conhecer e…

14 de março de 2025

Hora Extra: Quem Pode Fazer e Quais as Regras?

Veja se qualquer profissão oferece essa possibilidade

14 de março de 2025

Como se adequar ao novo Consignado privado? Guia para empresas

Descubra como sua empresa pode se adequar ao novo Consignado privado e apoiar os trabalhadores…

14 de março de 2025

MEI, aprenda de maneira simples e fácil como enviar a sua declaração!

Aprenda de maneira simples como transmitir a sua Declaração Anual do Simples Nacional do MEI…

14 de março de 2025

Veja as mudanças na ficha de “outros bens” e direitos do IR 2025

Em 2025, a Receita Federal ajustou e incluiu alguns itens a fim de dar maior…

14 de março de 2025

Imposto de Renda: como obter o informe de rendimentos do INSS?

Se você é aposentado, pensionista ou recebe auxílio do INSS, aprenda como conseguir seu informe…

14 de março de 2025

Imposto de Renda: Entenda que são rendimentos Isentos e tributáveis

Entenda o que são os rendimentos isentos e tributáveis, saiba como eles são importantes para…

14 de março de 2025

Preparação para o IRPF 2025: como evitar erros e maximizar benefícios

Visão do especialista, Murillo Torelli, professor de Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

14 de março de 2025

11 alimentos têm tarifa zero de importação. Confira a lista!!

Câmara de Comércio Exterior aprova redução a zero do imposto de importação para uma lista…

14 de março de 2025

Revelamos o que faz os preços continuarem aumentando no Brasil

Raramente os brasileiro presenciam os preços dos produtos diminuírem, mas por que será que eles…

14 de março de 2025

This website uses cookies.