Tributos

Haddad busca taxação de empresas de e-commerce e apostas online

Poucos dias depois de anunciar um conjunto de medidas e políticas governamentais que visam garantir a estabilidade fiscal do país com o objetivo de manter as finanças públicas equilibradas, evitando déficits excessivos e garantindo a sustentabilidade da dívida pública – o Arcabouço Fiscal – o Ministro da Economia, Fernando Haddad, subiu o tom acerca das empresas e-commerce e das apostas online. O discurso do ministro aponta para certas mudanças que poderão ocorrer em relação a tributação dessas atividades, o que influenciaria diretamente o consumo da população, tendo em vista que, atualmente, notou-se um aumento exponencial tanto na utilização das plataformas de compras digitais estrangeiras, como nos sites de apostas esportivas.

Mas primeiramente, antes de determinarmos se o Governo Federal pode realizar essas mudanças, devemos entender o cenário atual em relação às diversas propostas com temática fiscal apresentadas ao Legislativo. Relativamente às apostas esportivas, é um assunto pouco explorado, mas que tem ganhado destaque nos últimos anos, tendo em vista que o país tem um grande mercado de apostas, o qual inclui desde lotéricas oficiais até apostas esportivas e cassinos online.

Sobre a questão, foi sancionada a Lei 13.756/2018, a qual estabeleceu normas gerais para as apostas esportivas no país. Contudo, já passados mais de 4 anos, ainda não foi publicada qualquer lei que trouxesse uma regulamentação clara e específica sobre esse mercado. Quanto às empresas e-commerce estrangeiras atuais -podemos citar aqui a Shein, AliExpress e Shopee – o cenário atual se apresenta de maneira mais regulamentada. Porém, há o surgimento de novos mecanismos de vendas utilizados pelas plataformas e-commerce, os quais tem se mostrado eficientes em evitar ou minimizar a tributação existente no Brasil.

Atualmente, a alíquota (percentual aplicado para cálculo do tributo) do Imposto sobre Produtos Importados é de 60% em compras feitas por pessoas físicas com valor total superior a US$50 (aproximadamente R$250). Contudo, como dito, mecanismos como a divisão de pacotes são utilizados estrategicamente para a minimização da carga tributária. É nesse cenário que o governo pretende lançar medidas fiscais a fim de coibir essa minimização e, finalmente, acabar com a atual isenção fiscal até o limite de R$250, tributando de forma igual todas as compras realizadas por pessoas físicas, ou seja, para consumo próprio, que sejam realizadas no país.

Para o governo, a aplicação dessas medidas resultaria em um aumento exponencial da receita arrecadada com as importações, com a possibilidade de disponibilização de maior orçamento para despesas em setores essenciais de nosso país. Contudo, na realidade prática do Brasil, a parcela afetada pela implementação dessa nova política fiscal seria a da população de baixa renda e menos assistida, tendo em vista que é ali que se encontra a maior parcela da população que realiza compras nas plataformas mencionadas, justamente devido aos baixos preços e variedade de produtos.

Leia também: Shein, Aliexpress E Shopee Passarão A Ser Taxadas Pela Receita Federal?

Por fim, podemos concluir que, apesar de intencionalmente razoável, a nova proposta política do governo, levando-se em conta o cenário econômico brasileiro, no qual há uma evidente desproporcionalidade do poder aquisitivo e historicamente um baixíssimo retorno dos tributos pagos pelo cidadão, a melhor saída para o atual cenário não está no fim da isenção do limite de tributação de produtos importados.

Por Fábio Ferraz, advogado tributarista, sócio da Tributtax.

Leonardo Grandchamp

Supervisor de Redação do Jornal Contábil e responsável pelo Portal Dia Rural.

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