Sensação de incapacidade, medo, baixa autoestima e até raiva. Esses são alguns dos sentimentos de quem acabou de perder o emprego. E, em tempos de crise, com 61.826 profissionais demitidos na Bahia somente em abril, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), está cada vez mais fácil fazer sentir tudo isso junto.
Mas ser dispensado pode não ser uma tragédia. Para muitos, a situação pode ser o gatilho que faltava para realizar o sonho de passar da condição de empregado para patrão, utilizando o dinheiro da rescisão para abrir o próprio negócio.
E parece que essa tem sido a realidade de muitos baianos. De acordo com os números do Portal do Empreendedor, houve um aumento de quase 18% no número de empresas optantes do Simples no estado (incluindo Microempreendedor Individual – MEI) em abril deste ano comparado com abril de 2014.
Além de experimentar o mundo do empreendedorismo, os profissionais que foram demitidos têm a chance de fazer o dinheiro render sem muito esforço. Não! Não é mágica e tampouco loteria. Para isso, basta conhecer um pouco o mercado financeiro e aplicar o dinheiro no investimento certo.
O diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira, diz que não há uma receita, já que a melhor opção, que vai da poupança até o mercado de ações, dependerá do perfil do investidor.
“Primeiro, é preciso estabelecer um objetivo para a aplicação, definindo um prazo para ter o dinheiro aplicado de volta. Depois, o montante que será aplicado”, explica ele, informando que a única opção a não seguir é deixar o dinheiro da rescisão parado na poupança.
A jornalista paulista Claudia Giudice, 49 anos, não duvida disso. Demitida em agosto de 2014, após 23 anos de trabalho na maior editora do país, ela teve de apostar no seu lado empreendedor para tocar a vida. Para isso, precisou transformar a sua pousada, A Capela – inaugurada no final de 2012 em Arembepe -, que até então era um hobby, em sua fonte de renda.
“Pensava em largar a minha vida profissional aos 55 anos, mas meus planos foram antecipados”, revela ela, que ficou ainda mais conhecida após o seu desabafo na internet, com o texto “Ao arrancarem meu crachá, senti como se estivessem arrancando a minha pele”.
Mas, como acredita que tudo na vida tem um prazo de validade, a jornalista garante que não foi tão difícil transformar o plano B em A. Talvez, fosse diferente se ela não começasse a empreender antes de ser demitida.
“Aproveitei a minha segurança financeira, enquanto empregada, para investir no meu projeto de vida. Isso facilitou para que as coisas dessem certo. Tive tempo para aprender com os meus erros”.
Oportunidade
O gerente da unidade regional do Sebrae Bahia, Rogério Cerqueira, diz que, assim como o de Claudia, há vários casos de sucesso. Mas ele chama atenção para os cuidados necessários a fim de evitar que o trabalhador que perdeu o emprego jogue fora a sua reserva financeira. “Primeiro, é preciso entender que a abertura de um negócio deve estar associada a uma oportunidade e não a uma necessidade”.
Identificada a oportunidade, é hora de planejar o empreendimento. Afinal, por melhor que seja a ideia, ganhar dinheiro sem ter chefe não é uma tarefa fácil.
“Elaborar um plano de negócios é fundamental para diminuir os riscos”, garante ele, explicando que o plano serve para levantar informações e analisar a viabilidade do negócio. Dados do Sebrae revelam que 27% das empresas fecham antes de completar dois anos por falta de planejamento.
Além de se identificar com a atividade a ser desenvolvida, seja ela um produto ou serviço, o empreendedor precisa apostar em algo que o mercado tenha necessidade, alerta o consultor do Sebrae.
Após definir o tipo de negócio, é preciso estabelecer o público-alvo e conhecer os concorrentes e fornecedores. “O mais importante é ter o aspecto inovativo. Aí vem a pergunta: ‘O que eu vou fazer ou oferecer de diferente para que o cliente me procure e não procure o meu concorrente?”’, diz.
Para aqueles que não sabem por onde começar, o Sebrae pode ajudar. O órgão conta com uma série de cursos, alguns gratuitos e online, para quem deseja empreender. “Eu tive o privilégio de fazer tudo de uma forma tranquila, mas, infelizmente, o brasileiro só lembra de empreender no sufoco”, alerta a jornalista Claudia Giudice.
Para evitar arrependimentos, Claudia Giudice dá uma dica: “A primeira coisa é pensar o que quer da vida: procurar emprego ou viver sem crachá. Para quem não tem vontade de ser um empreendedor é bobagem investir em um negócio próprio, pois custa caro”.
Para quem quer empreender, mas tem medo de inovar, o técnico do Sebrae Fabrício Barreto recomenda as franquias. Segundo ele, uma das vantagens desse tipo de negócio é a praticidade de adquirir um modelo já consolidado, com padrões, treinamentos e consultorias.
“As pesquisas apontam uma taxa de sobrevivência muito positiva comparando aos negócios de marca própria”. E, a depender do modelo, não precisa gastar muito, pois existem microfranquias com investimento inicial a partir de R$ 10 mil.
Aplicações fazem dinheiro da rescisão render mais
Embora os consultores acreditem que o espírito empreendedor possa ser desenvolvido, nem todo profissional que foi demitido está preparado para empreender. Ok! Mas também não precisa abrir mão de deixar o dinheiro da indenização trabalhando (rendendo) sozinho por você. Resumindo: ao invés de deixar o valor da rescisão parado na conta corrente, aproveite para investir no mercado financeiro.
Quem gostou da ideia deve prestar atenção nas orientações dos especialistas. O consultor financeiro Augusto Saboia recomenda, primeiro, separar parte do montante para manter os gastos corriqueiros, como aluguel, luz e água.
“Estime o período que você acredita conseguir um trabalho e dobre esse resultado. Multiplique esse número pelos seus gastos mensais para ter a sua necessidade de caixa para os próximos meses”, ensina. O restante? Aplique!
Para o especialista em Finanças Antonio De Julio, a verba rescisória é o “último suspiro” financeiro. “Portanto, jamais tente ganhar dinheiro com essa rescisão em mercados de risco, como a Bolsa de Valores, se não souber o que está fazendo”.
O diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira, explica que, com a elevação da taxa básica de juros (Selic), hoje em 13,75% ao ano, aplicações financeiras em títulos públicos, como fundo de renda fixa, CDBs (certificado de depósito bancário) e tesouro direto, têm apresentado uma melhor rentabilidade.
“Em 12 meses, os fundos de renda fixa tiveram uma rentabilidade de 10,19% contra 7,25% da poupança”, informa. Da mesma forma do empreendedorismo, para investir no mercado financeiro é preciso conhecimento, experiência, disciplina e perseverança.
Saboia diz que, para aqueles que precisam usar a rescisão para sobreviver, a dica é separar de três a seis meses desse dinheiro e deixar na poupança. “Com o restante, tente comprar um Tesouro Direto ou um CDB com liquidez. Não esqueça de colocar uma parte na sua Previdência Privada, já que o INSS não ajudará na velhice”. (Com redebahia.com.br)
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