A modernização do BacenJud, sistema que conecta a Justiça, o Banco Central e as instituições bancárias, representa um salto significativo no âmbito das penhoras judiciais. Projetado para ir além das tradicionais contas correntes, o sistema agora mira também instrumentos financeiros menos convencionais, muitas vezes abrigados sob o guarda-chuva das fintechs. Embora essa evolução tenha como objetivo aprimorar os processos executivos, surge uma questão provocativa: será que esse novo alcance pode, inadvertidamente, desestabilizar o sistema secundário de crédito?
Particularmente preocupante é o impacto potencial sobre as contas escrow ou contas vinculadas, que funcionam como o alicerce de transações legítimas e de alto valor no ecossistema financeiro brasileiro. Os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) dependem dessas contas para realizar operações comissárias, movimentando diariamente bilhões de reais de forma lícita e estruturada, alcançando milhares de empresas que não possuem acesso aos comumente chamados “bancos de primeira linha”. Hoje os FIDCs são reconhecidamente o motor econômico das pequenas e médias empresas no país, exercendo um papel fundamental para que a economia continue funcionando.
Se o alcance ampliado do BacenJud incluir as contas Escrow (ou conta vinculadas), há um risco de desorganizar esse equilíbrio delicado. Ao bloquear recursos que estão legalmente comprometidos em obrigações contratuais específicas, o sistema pode, sem querer, desencadear uma reação em cadeia. FIDCs e suas contrapartes, impossibilitados de acessar os valores em escrow, podem enfrentar atrasos, disputas ou até mesmo inadimplências. Esse efeito cascata pode corroer a confiança no mercado secundário de crédito, levando a um colapso sistêmico. Ainda que o Judiciário venha a reconhecer a validade da conta Escrow por força da cessão e o direito do fundo sobre aquele valor, quem arcará com o custo do tempo do poder judiciário? E os custos de uma ação de embargos de terceiros, que envolve taxas elevadas e custos jurídicos?
A pergunta que fica é: como o BacenJud lidará com as contas escrow? Haverá salvaguardas para garantir que essas contas, fundamentais para a estabilidade das operações comissárias, permaneçam protegidas? Ou a modernização do BacenJud, ao buscar eficiência nas execuções judiciais, abrirá caminho para consequências imprevistas em um dos setores mais críticos do sistema financeiro brasileiro?
O equilíbrio entre inovação e mitigação de riscos está em jogo. É essencial que os reguladores avancem com cautela, garantindo que a busca por eficiência não comprometa a estabilidade financeira do país.
*Marcelo Naufel é advogado especialista em Direito Empresarial e sócio do ABN Advogados (Almendros, Batista e Naufel Advogados)
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