O papel da nova geração de contadores

“A nova geração tem a missão de fazer da Contabilidade um instrumento para tomada de decisões estratégicas. Isso mudará o mundo e a forma como nos relacionamos com ele”

Em seu depoimento para o livro do CRCSP, lançado em comemoração aos 70 anos da entidade, o senhor disse “que a profissão está enfrentando forte pressão em relação ao mercado e que empresas de software estão ocupando cada vez mais espaços dentro da atividade contábil. Isso por conta dos marcos reguladores cada vez mais padronizados e que permitem um avanço extraordinário da informatização”. Isso é ruim?
Não, obviamente não é ruim. O avanço tecnológico aumentou a capacidade do profissional da contabilidade de interpretar dados de forma eficaz. O software é tão indispensável como um bisturi para o cirurgião. No entanto, ele deve ser considerado uma ferramenta de trabalho.

Nesses tempos modernos, o que os advogados têm feito de diferente dos profissionais da contabilidade em termos de posicionamento no mercado e valorização profissional? 
Os advogados tomam frente e alargam sua presença no planejamento tributário, societário e empresarial. A judicialização dos processos administrativos e as frequentes caracterizações do Fisco quanto à chamada “simulação de ato jurídico” tem contribuído para essa migração do trabalho do profissional contábil para a área jurídica.

 Como os profissionais deveriam agir diante desse cenário?
A questão é: o que fica para a classe contábil? Cuidar das obrigações acessórias e cobrar por documento processado. Não me parece que isso justifica a especialidade. Creio que precisamos abrir uma discussão profunda sobre o futuro dessa formidável profissão. A democracia existe graças à transparência oferecida pela Contabilidade. Entendo que temos um espaço novo e extraordinário na formulação de estratégias empresariais, políticas públicas, projetos de instalação de corporações, apoio ao desenvolvimento de empreendedores e que podemos nos posicionar como “centros de conhecimento empresarial”.

O que é um centro de conhecimento empresarial?
O centro de conhecimento empresarial ou centro de inteligência contábil é o escritório contábil, que tem por propósito prestar serviços com alto valor agregado. Esses serviços são fundamentais para o empresário na gestão inteligente do seu negócio. É o contador que oferece suporte em questões tributárias, fiscais, judiciais; em renegociação de dívidas com credores; no planejamento tributário; na governança corporativa; no desenvolvimento de plano de negócios e no planejamento e posicionamento estratégico.

Em suas apresentações, o senhor já falou sobre uma pesquisa do Sescon-SP, que demonstra que os escritórios contábeis cobram, em sua maioria, por serviços de contabilidade ‘mecânicos’.  Explique melhor.
Exatamente. Esses serviços são realizados por empresas de tecnologia e sistemas. Isso significa que estamos perdendo mercado e lucratividade, já que o que nos resta são os trabalhos que realizamos para o governo e não somos remunerados por isso. Como eu disse, estamos passando para profissionais de outras áreas os serviços que realmente nos agregam valor.

Como deve ser o novo contador?
O novo contador é um profissional graduado e habilitado para atuar diretamente na gestão do negócio e na tomada de decisões. O profissional da área contábil deve possuir competências que permitam o pensamento estratégico fazendo ainda parte do seu perfil, a expertise em tecnologia. Os sistemas de informações estão cada vez mais complexos. É preciso também ter habilidades em liderança e comunicação, além do sólido conhecimento técnico já esperado.

Que mudanças o profissional contábil deve realizar na sua rotina e da sua equipe para se firmar no mercado como fundamental para o negócio das organizações?
O profissional contábil hoje já é fundamental e necessário para as organizações. O que se espera é que, além da elaboração das demonstrações financeiras, ele possa ter papel relevante no planejamento e estruturação das principais atividades empresariais trazendo solidez e confiabilidade para o negócio.

Em que ele deve investir? 
Ele deve investir fundamentalmente no desenvolvimento da sua carreira, buscando aprimorar seus conhecimentos através de treinamentos e buscar bons programas de pós-graduação.

O senhor, como fundador de uma instituição de ensino, convive diariamente com essa nova geração que parece já ‘nascer sabendo’, quando se trata de tecnologia.  Como é essa relação?
Essa geração, sem dúvida nenhuma, com o avanço da tecnologia, tem acesso a muitas informações, porém nem sempre informação se transforma em conhecimento. Na nossa instituição, a relação se desenvolve de forma harmoniosa, pois temos à disposição uma metodologia de ensino atualizada, com uma infraestrutura preparada para explorar, por meio da prática, todo o potencial que essa geração tem para oferecer.

O que os profissionais da contabilidade devem aprender com esses jovens?
Essa geração é muito mais dinâmica e mais interativa que as anteriores. O avanço da tecnologia permitiu a otimização do tempo e dos processos. A habilidade que os jovens possuem e a aptidão natural dessa geração trazem muitos benefícios que podem ser explorados, como, por exemplo, sua habilidade de processar e lidar com muitas informações ao mesmo tempo.

O que os jovens devem aprender com os profissionais mais experientes?
Há muito que aprender. A Contabilidade é uma ciência e como ciência precisa ser explorada e descoberta. Falta aos mais jovens algo que os mais experientes possuem que é paciência, perseverança e prática. Tudo é construído de forma lenta e cadenciada e os jovens, de forma geral, em especial as duas últimas gerações, são muito imediatistas. Isso acaba prejudicando-os. Essa é a principal lição a ser apreendida.

O que o senhor fala para os alunos da escola Trevisan sobre o futuro da Contabilidade?
Falo para todos, não só para os alunos. A Contabilidade é algo nobre no Brasil e no resto o mundo. Precisamos ter muito orgulho de ter um papel tão importante para a sociedade e para a nação. O contador sempre teve e terá uma função muito importante no mundo empresarial, não apenas por sua competência e habilidade na elaboração das demonstrações financeiras. Ele pode mudar a forma como essas demonstrações se relacionam com o mundo externo e o impacto que essas informações têm na vida das pessoas. O contador deve estar preparado para uma Contabilidade cada vez mais dinâmica, detalhada e confiável. O tempo em que o contador prestava somente serviços de cunho arrecadatório e legalista está acabando. Temos agora uma nova geração de jovens contadores que tem uma missão importante, que é fazer da Contabilidade e das informações financeiras um instrumento para tomada de decisões estratégicas. Isso mudará o mundo e a forma como nos relacionamos com ele.

 

Via CRCSP

Ricardo

Redação Jornal Contábil

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