Negócios

O próprio trabalho em home office expõe desigualdades entre os membros de uma empresa

A pandemia do novo coronavírus evidenciou o abismo social entre pobres e ricos no Brasil e levou as grandes companhias a dedicarem um olhar mais humanizado aos seus colaboradores, enxergando como a desigualdade social afeta a produtividade das empresas. 

“Enquanto seus executivos podem desfrutar do isolamento social com pouca ou nenhuma dificuldade, seus colaboradores de nível médio e mais baixo não têm as plenas condições para manter a produtividade em suas casas, que, muitas vezes, não são adequadas ao isolamento, com problemas de acesso à internet, além de terem que dividir o tempo com o cuidado dos filhos, que estão sem frequentar a escola.

A desigualdade social, que é muitas vezes mal percebida nas empresas, passou a comprometer a produtividade das organizações e a dar sinais de alarme nas esferas de decisão”, afirma Alexandre Garrett, psicólogo especializado em Crises e Emergências e especialista em RH.

Diante de orçamentos comprometidos e uma situação de emergência social, executivos passaram a cobrar a ação do Estado na atenção primária da saúde, no saneamento básico das famílias, na solução de escolas virtuais e no atendimento das demandas das classes mais vulneráveis. 

“O custo social da pandemia cobra de todos um posicionamento e percebemos que o Estado não consegue lidar com crises dessa magnitude. A iniciativa privada tem, também, que dar sua contribuição para enfrentar o caos provocado pela pandemia”, observa.

Nesse sentido, um dos grandes desafios na gestão de RH é fornecer informações e meios para proteger a saúde de seus colaboradores. Por isso, os investimentos em canais de comunicação e transparência, além do fornecimento de equipamentos de proteção e implantação de esquema de teletrabalho, são fundamentais. 

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“Informações corretas salvam vidas. Em tempo de crescente divulgação de fake news, investir na transparência e comunicação são tão vitais quanto oferecer as ferramentas de que os trabalhadores necessitam para poder trabalhar de casa, em segurança”, afirma Garrett.

A perda de colaboradores para a doença tem efeito devastador nas relações de trabalho e na produtividade. 

“Quando um companheiro de trabalho ou um líder morre, há uma comoção muito grande. Estamos falando de relacionamentos humanos, de pessoas que convivem diariamente por muito tempo e é por isso que as empresas estão se adaptando para gerenciar essas crises internas e contam cada vez mais com o apoio de psicólogos”, diz.

Garrett acrescenta que a perda de capital humano tem um forte impacto na produtividade das companhias. 

“Em muitas empresas, setores inteiros são afetados por perdas provocadas pela covid, desestabilizando o esquema de trabalho e levando muitos processos de volta à estaca zero.

Por isso, cuidar das pessoas e enxergar o lado humano dos colaboradores têm sido práticas cada vez mais frequentes e necessárias dentro do ambiente de trabalho, mesmo em home office”, afirma.

As práticas de RH, diz o especialista, ficaram comprometidas no meio desse caos. “Os resultados caem, as cobranças dos acionistas aumentam e a empresa se sente incapaz de reagir a tal estado de anarquia de crenças e valores. Fechar os olhos e fazer de conta que nada está acontecendo é uma atitude que vai trazer consequências sérias nos médio e longo prazos.

Temos que lutar pela redução de desigualdades econômicas e sociais. Assim, quem sabe o vírus não machuque tanto as pessoas e as dores sejam menores para todos que fazemos parte dessa sociedade fracionada entre pobres e ricos”, diz.

Esther Vasconcelos

Estudante de nutrição e apaixonada por meios de comunicação, trabalhando atualmente como redatora no Jornal Contábil.

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