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Pandemia: Um cenário de incertezas para os negócios

por Esther Vasconcelos
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Se há um ponto de consenso entre analistas em relação ao cenário atual, esse ponto é a percepção clara da sua imprevisibilidade.

Os impactos da Covid-19 não foram antecipados em nenhuma análise realizada até os primeiros meses de 2020. O ineditismo da crise foi tanto que os modelos perderam sua capacidade preditiva.

E, à medida que a crise se espraiou, as projeções mais ou menos otimistas para 2020 foram sendo revisadas para baixo: as mortes e o isolamento social causaram impactos profundos no mundo inteiro.

Ainda se vive um cenário de muitas incertezas em relação à duração da crise e à possibilidade de outras ondas que venham determinar novamente um isolamento obrigatório.

No entanto, à medida que as atividades retornam, os indicadores começam a reagir, surpreendendo positivamente e contribuindo para a melhora da confiança de consumidores e empresários.

Assim, em um primeiro momento, sob o impacto do fechamento total da maioria das empresas e estabelecimentos comerciais, as projeções apontaram uma queda sem precedentes em toda a economia.

Com a divulgação das pesquisas de maio e junho, as taxas de crescimento mostram-se menos negativas, refletindo a base de comparação bastante deprimida, mas também o resultado das políticas de compensação de renda implementadas pelo governo.

Algumas consultorias projetaram queda superior a 7% para o PIB brasileiro – segundo o FMI, será de -9%. Mas o último Boletim Focus já apontou retração de 6,10% para a economia em 2020.

A Sondagem do setor da construção refletiu fortemente as incertezas desse cenário, com o humor do empresário oscilando bastante.

A confiança empresarial caiu expressivamente refletindo a redução dos negócios e a preocupação com a demanda dos próximos meses.

Em março e abril, o Indicador da Confiança setorial caiu 27,8 pontos, mas subiu 12 pontos em maio e junho.

Não recuperou o patamar anterior, mas a sondagem mostrou, principalmente, os empresários menos pessimistas a partir da reabertura gradual das atividades.

As pesquisas de emprego e ocupação confirmam a retração da atividade no período. Entre março e maio, a construção fechou 98,7 mil empregos com carteira segundo o Caged. No ano, houve redução líquida de 50,5 mil postos.

No entanto, em maio o saldo já foi menos negativo, mostrando uma desaceleração da queda. Na sondagem da construção, o indicador de mão de obra prevista para os próximos três meses voltou a subir em junho, embora permaneça 12 pontos abaixo do resultado alcançado em fevereiro.

De acordo com a PNADc, a ocupação registrou queda mais expressiva no trimestre encerrado em maio.

Na comparação de 2020 com o mesmo trimestre de 2019, a queda alcança 16%, o que representa uma redução de mais de um milhão de pessoas ocupadas na construção.

Os demais elos da cadeia da construção também acusaram queda forte da atividade em março e abril.

O índice de produção de materiais de construção registrou queda acumulada de 32% nos meses de março e abril, já com o ajuste sazonal.

Em maio, o indicador subiu 13% em relação a abril. Na comparação com maio de 2019, a queda foi de 21,5% e acumula no ano retração de 12,4%.

Apesar do resultado consolidado negativo, o cimento não acompanhou a queda geral da indústria: em maio já houve forte aumento da produção, que superou em 11% o resultado de maio de 2019.

Vale lembrar que a produção de materiais é um dos indicadores considerados pelo IBGE na estimativa do PIB trimestral da construção.

As vendas de materiais no varejo também caíram fortemente no bimestre março-abril. O volume de vendas registrou retração de 18% na comparação de abril com fevereiro, feito o ajuste sazonal.

No entanto, ao contrário da indústria, houve recuperação mais significativa, com a alta em maio, já com ajuste, de 22%.

No ano, o volume de vendas de materiais registrou redução de 6,8%. O resultado do comércio como um todo surpreendeu positivamente e reflete o auxílio emergencial, que comprovadamente mitigou os efeitos da perda de renda causada pelo isolamento social.

Assim, para a construção, o cenário começa a se mostrar menos pessimista à medida que as obras retornam.

No conjunto, esses dados nos mostram que o pior da crise já passou? Essa é a percepção atual do empresário da construção.

Na verdade, as sondagens da  FGV revelam que, em geral, os empresários de todos os setores partilham dessa percepção.

Depois das quedas com taxas de dois dígitos registradas pela maior parte dos indicadores em março e abril, os números mais recentes parecem confirmar esse sentimento. Mas, voltando ao início da conversa: ainda há muitas incertezas.

De todo modo, mesmo sem segunda onda, parece claro que o ritmo de melhora será lento. Será impossível retomar rapidamente ao patamar de fevereiro, depois que milhares de negócios fecharam de forma definitiva, gerando um contingente enorme de pessoas fora do mercado de trabalho.

Nesse cenário, as políticas emergenciais continuarão determinantes do ritmo de retomada.

A íntegra da análise realizada pela FGV em parceria com o SindusCon-SP está disponivel aqui.

Por SindusCon-SP é a maior associação de empresas da indústria da construção na América Latina

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