Antes mesmo de assumir oficialmente a presidência dos Estados Unidos, em 20 de janeiro, Donald Trump já manifestava sua intenção de implementar tarifas elevadas sobre produtos importados, incluindo aqueles provenientes do Brasil. O presidente eleito justificou essa postura como uma maneira de proteger a indústria americana, garantindo que os fabricantes locais não fossem prejudicados pela concorrência externa. Durante suas declarações, Trump mencionou: “A Índia cobra muito, o Brasil cobra muito. Tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa”.
Gustavo Moraes, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, analisa essa estratégia como um movimento calculado para gerar desconforto antes mesmo do início das negociações comerciais. Ele observa que o Brasil realmente impõe altas taxas sobre certos produtos, como aço e automóveis. Segundo Moraes, o regime automotivo vigente desde 2012 favorece a instalação de fábricas locais por montadoras internacionais, justificando assim a elevada taxação que Trump critica.
Além disso, Moraes destaca a relação entre Trump e empresários do setor automobilístico, citando Elon Musk, fundador da Tesla, como um apoiador da campanha do republicano. Ao nomear o Brasil em suas críticas, Trump gera uma pressão adicional sobre Lula, presidente brasileiro e opositor ideológico em nível global. Esse tom ameaçador também é dirigido a outras nações como China e México.
O economista Jorge Ussan, professor da Escola de Negócios da Fadergs, acrescenta que o foco nas tarifas está diretamente ligado ao setor metalúrgico americano, que tem enfrentado dificuldades históricas em comparação com suas contrapartes brasileiras. Ele observa que a retórica de Trump busca angariar apoio das siderúrgicas americanas ao apontar para as altas taxas de importação.
Por outro lado, Ussan considera improvável que o Brasil retribua as ameaças com tarifas retaliatórias sobre os Estados Unidos. Ele ressalta que a pauta de importações brasileiras inclui produtos essenciais como máquinas e combustíveis, cruciais para a indústria nacional.
Recentemente, houve uma redução nas tarifas impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros. Em janeiro deste ano, as autoridades americanas aboliram uma taxa adicional de 103% sobre tubos soldados de aço não-ligado.
Dados do Ministério do Desenvolvimento indicam que entre janeiro e novembro, as exportações brasileiras para os Estados Unidos totalizaram 36,57 bilhões de dólares, representando 11,7% do total das vendas externas. Em comparação, as exportações para a China alcançaram 89,4 bilhões de dólares, correspondendo a 28,6% desse total.
A análise dos números sugere que as declarações de Trump podem não ter um impacto significativo nas exportações brasileiras. Embora o segmento metalúrgico esteja no centro das discussões tarifárias e represente cerca de um terço das vendas brasileiras para os EUA — algo em torno de 3% do total exportado — sua relevância pode ser subestimada no contexto mais amplo.
Com a posse de Trump se aproximando, resta observar como sua política comercial se desenvolverá e quais serão as repercussões para o mercado interno americano. Existe a possibilidade de que suas ameaças resultem em desabastecimento nos EUA, mesmo considerando a robustez da economia americana.