Pela quarta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu aumentar a taxa básica de juros, elevando a Selic em 1 ponto percentual, agora fixada em 13,25% ao ano. A reunião, realizada nesta quarta-feira (29/01), marcou também a primeira convocação do novo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, economista que assumiu o cargo após ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A decisão de elevar a Selic se alinha às expectativas do mercado financeiro, conforme evidenciado pela mais recente edição do Relatório Focus, divulgado na última segunda-feira (27/01). Os analistas preveem que a taxa atinja 15% ao ano até o final de 2025, com uma expectativa de redução para 12,25% em 2026.
As implicações dessa nova elevação da Selic são abrangentes e afetam diversos setores da economia. Em geral, um aumento na taxa de juros resulta em custos mais altos para empréstimos e financiamentos, o que pode desencorajar o consumo. A Selic serve como referência para o custo do crédito no país; portanto, seu aumento tende a onerar as operações financeiras.
“O impacto é especialmente sentido nos setores que dependem fortemente do crédito para suas vendas. Quando os juros sobem, há uma diminuição no interesse por compras de bens duráveis como veículos e imóveis”, observa André Galhardo, consultor econômico da plataforma Remessa Online. Ele destaca que segmentos como a construção civil e o comércio varejista são particularmente vulneráveis a essas flutuações.
A alta dos juros também afeta empresas que necessitam de crédito para capital de giro e investimento. Galhardo acrescenta que tanto a construção civil quanto a indústria de transformação enfrentarão desafios adicionais com a nova elevação da Selic.
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O encarecimento dos empréstimos impacta diretamente o consumo da população. Com os preços de produtos e serviços subindo, é esperado que haja uma redução nas compras. Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, explica que muitos brasileiros recorrem ao crédito devido à falta de poupança. “Esse aumento nos custos afetará imediatamente o bolso das pessoas; financiamentos e cartões de crédito ficarão mais caros”, alerta.
Além disso, Galhardo observa que a alta histórica da taxa de juros já torna o cenário insustentável para muitos consumidores. A tendência é que isso reduza ainda mais o volume de concessões de crédito, potencialmente expondo os indivíduos ao risco de inadimplência devido ao encarecimento das dívidas.
Os efeitos econômicos não se limitam ao consumo. O aumento da Selic pode esfriar a atividade econômica e impactar negativamente as contratações pelas empresas. O desemprego no Brasil foi reportado em 6,1% em novembro passado, o menor índice desde 2012. Contudo, conforme Galhardo observa, um ambiente de juros altos pode levar à diminuição das contratações e até mesmo ao corte de vagas.
A alta dos juros também influencia as decisões de investimento das empresas. Apesar de possuírem maior capacidade financeira do que indivíduos, as empresas não ficam imunes ao aumento dos custos de crédito. Queiroz afirma que isso frequentemente leva as companhias a adiar investimentos essenciais, resultando em um crescimento econômico mais lento.
Os investidores no mercado financeiro também sentirão os efeitos dessa elevação da Selic. Em geral, um aumento nos juros beneficia investimentos em renda fixa, como títulos públicos e CDBs. Durante períodos de taxas elevadas, esses papéis costumam oferecer retornos maiores. Por outro lado, ativos em renda variável podem sofrer desvalorizações significativas.
O Copom realiza reuniões a cada 45 dias para revisar a taxa Selic. Na próxima reunião agendada para os dias 18 e 19 de março, os membros do comitê sinalizaram a possibilidade de uma nova elevação na taxa básica de juros. Caso isso se concretize, a Selic poderá atingir 14,25% ao ano — um patamar semelhante ao registrado em julho de 2015 durante um período conturbado na economia brasileira sob o governo Dilma Rousseff.