Recentemente, o relatório “Elas vivem: dados que não se calam”, lançado pela Rede de Observatórios da Segurança, trouxe à tona uma realidade alarmante sobre a persistente crise de violência contra a mulher no Brasil.
Com base em uma análise minuciosa de dados de mídias e redes sociais, o relatório revelou um cenário preocupante, com um total de 2.423 casos de violência contra a mulher registrados em 2022, dos quais 495 resultaram em feminicídios.
São Paulo e Rio de Janeiro se destacaram como os estados mais preocupantes, concentrando aproximadamente 60% do total de casos.
Os dados evidenciaram um aumento notável nos casos de violência em diversos estados, incluindo um significativo crescimento nos registros de violência sexual.
Além disso, a maioria dos agressores foi identificada como parceiros ou ex-parceiros das vítimas, apontando para a urgência de intervenções e medidas de proteção para mulheres em situações de risco.
Diante desse contexto alarmante, propostas legislativas como o Projeto de Lei 3700/23 e o Projeto de Lei 807/2023, em discussão na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, respectivamente, ganham uma relevância crucial na busca por garantir direitos e proteção para as vítimas de violência doméstica no país.
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Projeto proíbe demissão de vítima de violência doméstica durante medida protetiva
Um projeto de lei recentemente proposto na Câmara dos Deputados, o PL 3700/23, tem em vista assegurar uma proteção adicional para mulheres vítimas de violência doméstica, proibindo a demissão sem justa causa por um período de seis meses ou enquanto perdurarem os efeitos das medidas protetivas.
A proposta, que cogita alterar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei Maria da Penha, ressalta a necessidade crucial de garantir a estabilidade no emprego para as mulheres que enfrentam situações de violência doméstica.
A autora do projeto, a deputada Maria Rosas (Republicanos-SP), destacou a importância de estender a proteção do emprego por um período que corresponda à duração das medidas protetivas, se esse prazo se estender além dos seis meses estabelecidos pela legislação vigente.
Ela argumenta que a preservação do emprego é fundamental para empoderar as mulheres vítimas de violência, permitindo-lhes manter sua independência financeira e bem-estar emocional.
A proposta visa oferecer uma salvaguarda adicional para as mulheres que, muitas vezes, enfrentam ameaças e riscos mesmo após a obtenção de medidas protetivas.
Essas medidas, que podem incluir restrições de posse de armas, afastamento do agressor do domicílio e restrições de visitas aos dependentes menores, são instrumentos cruciais para garantir a segurança e o bem-estar das vítimas.
No entanto, a eficácia dessas medidas pode ser comprometida se as mulheres forem sujeitas a demissões arbitrárias e injustas, aumentando sua vulnerabilidade financeira e emocional.
Portanto, a proposta de proibir a demissão durante o período de aplicação das medidas protetivas pode oferecer uma proteção adicional e uma garantia de estabilidade para essas mulheres em um momento de extrema vulnerabilidade.
O projeto está atualmente em fase de análise e será avaliado pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher, do Trabalho e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
A discussão em torno dessa proposta destaca a importância contínua de fortalecer os direitos das vítimas de violência doméstica e de criar um ambiente mais seguro e acolhedor para as mulheres em todo o país.
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Saque do FGTS para vítimas de Violência doméstica
Além do Projeto de Lei 3700/23 discutido na Câmara dos Deputados, uma nova iniciativa no Senado Federal, o Projeto de Lei 807/2023, propõe conceder às trabalhadoras vítimas de violência doméstica o direito de realizar saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
A autoria desse projeto é da senadora Jussara Lima, representante do PSD pelo Piauí, que visa modificar as disposições da Lei 8.036/90, permitindo que mulheres em situações de vulnerabilidade decorrentes de violência doméstica, seja ela física ou psicológica, tenham acesso a recursos financeiros por meio do FGTS.
A senadora destacou a persistência do desequilíbrio patriarcal que continua afetando inúmeras mulheres, resultando em situações dolorosas de agressão e constrangimento dentro de seus lares e famílias.
Ela ressaltou a importância de fornecer apoio financeiro para promover a independência e a recuperação dessas mulheres, reconhecendo a necessidade urgente de atender às demandas específicas das vítimas de violência doméstica.
Essa nova proposta legislativa no Senado Federal, com o PL 3700/23 discutido na Câmara dos Deputados, evidencia a crescente conscientização sobre a importância de fortalecer os direitos e o suporte para as vítimas de violência doméstica.
Ambos os projetos destacam a necessidade de abordagens abrangentes que considerem não apenas a proteção legal, mas também o suporte financeiro para garantir a segurança e o bem-estar das mulheres em situações vulneráveis.