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Tendências no mercado de crédito brasileiro

por Gabriel Dau
10 minutos ler
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Entramos na reta final de 2020, o último trimestre e o mais acelerado, sem dúvidas, em termos de movimentos de crédito.

O último trimestre concentra as festas de fim de ano e representa o período de maior crescimento do crédito no país.

Há alguns anos o Brasil importou a Black Friday americana, e assim esses três meses finais ganharam um recheio ainda maior no crescimento do crédito.

E o que os principais indicadores de crédito do país nos mostram? O crédito já retomou o crescimento dos anos anteriores?

A inadimplência já sentiu os efeitos da crise da COVID-19? Vamos aos números.

Relação Crédito X PIB

A relação crédito X PIB continua em crescimento, atingindo 53,4% em outubro.

Lembramos que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial vem sofrendo quedas históricas em virtude da pandemia e recentemente um estudo da OCDE projetou que o PIB terá uma retração de -6,0% este ano, razoavelmente melhor do que a estimativa de setembro que indicava queda de -6,5%.

Para 2021, entretanto, a previsão é a de que a atividade brasileira tenha um crescimento de 2,6%, mais conservadora do que a alta de 3,6% prevista em setembro.

Mercado de Crédito

Igualmente a setembro vemos uma carteira em ascensão similar aos anos anteriores.

E em termos de concessão, desde setembro apresentando os mesmos volumes de 2019.

Dentro dos produtos que compõe a carteira, chamamos a atenção para um fator já sinalizado em meses anteriores que é a carteira de créditos renegociados, que representa as dívidas repactuadas com novos prazos de pagamento.

Já vínhamos mostrando que o crescimento desta carteira era apenas um dos inúmeros fatores que ajudaram a não termos um avanço nos indicadores de inadimplência.

Porém o forte crescimento das novas operações entre os meses de março e julho, pelo menos, criou sem dúvida uma carteira que deve tirar o sono de muitos gestores de risco no primeiro trimestre de 2021.

Outra carteira que percebemos um grande aumento na pandemia foi a carteira de crédito imobiliário.

O crescimento de novas operações foi substancial durante o período da pandemia, chegando em outubro com um crescimento de 10,57% em relação ao ano anterior, e deve continuar aquecido durante o ano de 2021 pelas ofertas do setor, baixas taxas de juros e baixa inadimplência.

No mercado dedicado a pessoas jurídicas, a carteira de crédito continua 25,23% maior que no ano anterior, porém após a explosão de crédito ocorrida em abril voltamos agora aos patamares de concessão próximos ao ano anterior.

O que continua chamando atenção, com um crescimento nas concessões de 49,17% em relação ao ano anterior, são as operações de crédito de capital de giro.

Uma carteira que já acumula um crescimento de 44,3% em relação ao ano de 2019 e com números nunca antes vistos.

Fechando as visões de Pessoas Jurídicas, finalizamos com o “auxílio emergencial” para empresas, o crédito do PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), que cresceu 121,03% em relação a anos anteriores e que dobrou em representatividade em relação à carteira de crédito PJ Recursos Direcionados.

Taxas de Juros

As taxas de juros continuam com percentuais de 19% a 31% menores que o ano anterior, sendo puxadas pela baixa das taxas do cheque especial e pela redução que vem ocorrendo gradualmente na SELIC:

Indicadores de Cobrança

E a cobrança? Estamos acompanhando os indicadores quase que semanalmente desde março, imaginando que a inadimplência fosse ser o grande desafio depois dos impactos no cenário da saúde causados pela pandemia.

Mas chegamos em outubro de 2020 com os melhores números de inadimplência dos últimos 5 anos, tanto para pessoas físicas como para jurídicas.

A inadimplência das carteiras de cobrança vive seu melhor período histórico, mas existe sem dúvida um cuidado e atenção aos primeiros sinais de crescimento.

Lembramos que a redução na inadimplência em 2020 foi motivada por alguns fatores já comentados em relatórios anteriores, como o auxílio emergencial, a renegociação de dívidas (mostrada acima) para Pessoas Físicas, a busca por capital de giro e os empréstimos do PRONAMPE para Pessoas Jurídicas.

E quais são os primeiros sinais de atenção?

Os créditos renegociados: importante dizer que a carteira de créditos renegociados representa apenas 4,85% da carteira total de Pessoas Físicas Recursos Livres, e sendo assim qualquer impacto de subida de inadimplência demoraria a impactar o indicador geral.

Percebemos que no indicador over90 paralisou-se a tendência de queda e notamos um pequeno crescimento de 3,02% em relação ao mês anterior.

Mas são nos indicadores de curto prazo que o crescimento da inadimplência já pode ser percebido e tratado com maior atenção.

Vejam que paralisamos a tendência de queda e principalmente nos atrasos entre 15 e 90 dias, e chegamos próximo dos patamares de 2019.

Na carteira de Pessoa Jurídica, por mais que os indicadores over 90 ainda mostrem um percentual bem reduzido, quando olhamos para os indicadores de curto prazo já percebemos um crescimento que já chega a 12,08% nos atrasos entre 15 e 90 dias.

Neste segmento já percebemos um crescimento na maioria das carteiras (cartão de crédito, cheque especial, entre outros) nos indicadores de curto prazo, mas vale a atenção no produto que representa 41,85% da carteira e que conforme demonstramos acima teve grande crescimento de carteira no período de pandemia: o capital de giro.

Como alertamos nos relatórios anteriores, é essencial que nossos olhos estejam abertos e atentos a qualquer crescimento.

Em um evento da FEBRABAN, o diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso, disse que o pico de inadimplência no crédito deve ocorrer no primeiro semestre de 2021, mas tende a ser menor do que o esperado quando começou a crise causada pela pandemia do coronavírus.

Qual será o tamanho e quando exatamente ela virá? Difícil de prever. A única certeza que os números nos mostram é que ela virá.

Por: Eduardo Tambellini , Consultor de Negócios da FICO

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